Rudolf Bultmann tornou-se uma das figuras mais controvertidas dentre os teólogos cristãos do século passado. Aspectos secundários de seu pensamento teológico são usados por seus críticos, geralmente ligados ao fundamentalismo teológico, a fim de denegrir com rótulos absolutamente falsos o teólogo alemão.
Nasceu em 1884, na cidade de Wiefelstede (Oldenburg), na Alemanha, e, desde a mais tenra idade, foi marcado pela intensa religiosidade de seu lar. Sou avô paterno trabalhou como missionário em Serra Leoa, África, e seu pai era pastor luterano. O ambiente familiar, fortemente carregado pelo pietismo evangélico luterano, foi o fator preponderante que levou o pequeno Bultmann a estudar teologia.
Em 1903, deu início aos estudos teológicos na Universidade de Tubinga. Posteriormente, deu continuidade a seus estudos em Berlim e Marburg. Esta última é considerada seu verdadeiro lar intelectual. Obteve seu doutorado em teologia em 1910, defendendo a tese “O estilo de pregação paulina e a diatribe cínico-estóica”. Estava definida a sua predileção pela exegese, disciplina responsável pelo estudo científico dos textos bíblicos em suas línguas originais, e pela história da igreja primitiva.
Em 1912, obteve habilitação para atuar como professor de Novo Testamento, deixando sua marca em universidades como Marburg, Breslau e Giessen.
Criado como parcela significativa dos teólogos de seu tempo na chamada teologia liberal, Bultmann rompeu com a mesma, juntando-se ao novo círculo de teólogos neo-ortodoxos, ou dialéticos, liderados por nomes como Karl Barth, Paul Tillich e Emil Bruner. Após algumas divergências, em um futuro não muito distante, romperia com boa parte destes pensadores.
Contestando fortemente os pressupostos da teologia liberal, Bultmann deixou o seguinte testemunho: “O objetivo da teologia é Deus, e a acusação contra a teologia liberal é esta: ela não tratou de Deus, mas do ser humano. A teologia, cujo objeto é Deus, só pode, portanto, ter a palavra da cruz como seu conteúdo; esta, porém, é um escândalo para o ser humano. E assim a acusação contra a teologia liberal é que ela se evadiu diante deste escândalo ou tentou suavizá-lo”. Resumindo, para Bultmann, o liberalismo teológico tirou o Cristo crucificado do pensamento teológico.
Com o advento do nazismo, ligou-se prontamente a chamada Igreja Confessante, grupo eclesiástico que unia luteranos e reformados em oposição aos conhecidos “cristãos alemães”, elementos que desejavam a submissão da igreja diante do hitlerismo. Posicionou-se de forma clara contra o parágrafo ariano, lei que proibia a ordenação de pastores de origem judaica.
Como era de se esperar, deixou um legado de importantíssimas obras: A História da Tradição Sinótica (1921), Jesus (1926), Crer e Compreender (três volumes, lançados respectivamente em: 1933, 1952, 1960), e a clássica Teologia do Novo Testamento (1948, 1951 e 1953).
Idéias de Bultmann
Nasceu em 1884, na cidade de Wiefelstede (Oldenburg), na Alemanha, e, desde a mais tenra idade, foi marcado pela intensa religiosidade de seu lar. Sou avô paterno trabalhou como missionário em Serra Leoa, África, e seu pai era pastor luterano. O ambiente familiar, fortemente carregado pelo pietismo evangélico luterano, foi o fator preponderante que levou o pequeno Bultmann a estudar teologia.
Em 1903, deu início aos estudos teológicos na Universidade de Tubinga. Posteriormente, deu continuidade a seus estudos em Berlim e Marburg. Esta última é considerada seu verdadeiro lar intelectual. Obteve seu doutorado em teologia em 1910, defendendo a tese “O estilo de pregação paulina e a diatribe cínico-estóica”. Estava definida a sua predileção pela exegese, disciplina responsável pelo estudo científico dos textos bíblicos em suas línguas originais, e pela história da igreja primitiva.
Em 1912, obteve habilitação para atuar como professor de Novo Testamento, deixando sua marca em universidades como Marburg, Breslau e Giessen.
Criado como parcela significativa dos teólogos de seu tempo na chamada teologia liberal, Bultmann rompeu com a mesma, juntando-se ao novo círculo de teólogos neo-ortodoxos, ou dialéticos, liderados por nomes como Karl Barth, Paul Tillich e Emil Bruner. Após algumas divergências, em um futuro não muito distante, romperia com boa parte destes pensadores.
Contestando fortemente os pressupostos da teologia liberal, Bultmann deixou o seguinte testemunho: “O objetivo da teologia é Deus, e a acusação contra a teologia liberal é esta: ela não tratou de Deus, mas do ser humano. A teologia, cujo objeto é Deus, só pode, portanto, ter a palavra da cruz como seu conteúdo; esta, porém, é um escândalo para o ser humano. E assim a acusação contra a teologia liberal é que ela se evadiu diante deste escândalo ou tentou suavizá-lo”. Resumindo, para Bultmann, o liberalismo teológico tirou o Cristo crucificado do pensamento teológico.
Com o advento do nazismo, ligou-se prontamente a chamada Igreja Confessante, grupo eclesiástico que unia luteranos e reformados em oposição aos conhecidos “cristãos alemães”, elementos que desejavam a submissão da igreja diante do hitlerismo. Posicionou-se de forma clara contra o parágrafo ariano, lei que proibia a ordenação de pastores de origem judaica.
Como era de se esperar, deixou um legado de importantíssimas obras: A História da Tradição Sinótica (1921), Jesus (1926), Crer e Compreender (três volumes, lançados respectivamente em: 1933, 1952, 1960), e a clássica Teologia do Novo Testamento (1948, 1951 e 1953).
Idéias de Bultmann
Como especialista em Novo Testamento, Bultmann procurou transmitir o centro da mensagem cristã de uma forma que fosse compreensível para o ser humano de sua época, que não enxergava o mundo da mesma forma que uma pessoa do primeiro século. Sem menosprezar a historicidade de Jesus, para Bultmann o que realmente importava a respeito de Cristo era sua mensagem.
Através do kerigma, isto é, da proclamação, o ser humano é desafiado a dizer sim ou não à pessoa de Jesus Cristo. “A convicção de Bultmann foi que apenas com a proclamação da Palavra o acontecimento de Jesus se torna um acontecimento salvífico para nós; a saber, na recepção da fé”, afirma o pastor e teólogo luterano brasileiro Walter Altmann, presidente do Conselho Mundial de Igrejas.
Seguindo a corrente filosófica existencialista de Martin Heidegger, Bultmann chegou à conclusão de que a vida humana é desprovida de qualquer sentido. Tal sentido somente seria preenchido por um contato direto com Deus, obtido exclusivamente pela fé em Jesus Cristo. Temos aqui a reafirmação de um dos principais dogmas da Reforma, o conhecido “sola fide”, isto é, só a fé. Não obstante, a fé, para ser realmente fé, não deve se apoiar em qualquer outro meio que não seja Cristo. Comprovações históricas ou científicas, assim como a atenção demasiada a milagres, levam o ser humano a condicionar sua fé a elementos materiais.
Para o teólogo de Marburg, fé é uma auto entrega completa do ser humano nas mãos de Deus, fé que abre mão de comprovações de qualquer espécie.
Nos dias atuais, infelizmente, o centro da pregação e até mesmo da fé cristã está sendo invertida. De um lado, grupos fundamentalistas firmam suas crenças em supostas comprovações científicas de pormenores insignificantes do texto bíblico. Não percebem que, desta forma, estão submetendo Deus ao pensamento humano. Em outra esfera, a fé tem sido um exercício baseado apenas em milagres e prodígios que visam à satisfação material das pessoas. Cristo tem sido seguido por aquilo que ele pode proporcionar, não pelo que ele realmente é, o único capaz de conceder um verdadeiro sentido à alma carente de Deus.
Por esta razão, a teologia de Rudolf Bulmann, que nada mais é do que a valorização do encontro desinteressado da pessoa com Cristo, pode ser uma ferramenta para a proclamação do evangelho ao mundo moderno.
Bultmann por ele mesmo
“A fé verdadeira em Deus não é o reconhecimento que se dá a uma imagem de Deus, por mais correta que seja; é, antes, a prontidão para o fato de que o eterno quer encontrar-se conosco, a cada momento, no presente, nas mais variadas situações da vida.”
Fontes
Os grandes teólogos do século XX, Batista Mondin, Teológica.
Crer e Compreender, Rudolf Bultmann, Sinodal.
Teologia do Novo Testamento, Rudolf Bultmann, Academia Cristã.
POR : ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA.
Texto publicado no número 56 da revista Alvorada, órgão oficial da Secretaria de Forças Leigas da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.
Oi André. Agradeço o envio do texto. Está bem escrito. Apesar do seu trabalho esforçado como advogado de Bultmann, eu ainda prefiro mais a perspectiva de Oscar Cullmann, que "bateu de frente" com Bultmann em seu tempo. Estou mais para a persepctiva da Heilsgeschichte que para o programa de desmitologização. Mas confesso que admirei seu esforço e até mesmo criatividade para, a partir de Bultmann, criticar tanto uma preocupação fundamentalista como uma preocupação materialista fomentada pela teologia da prosperidade. O grande problema de Bultmann a meu ver, criticado pelo que você chama de fundamentalismo (digo isso porque todo fundamentalista é conservador, mas nem todo conservador é fundamentalista - a crítica a Bultmann não é patrimônio exclusivo do fundamentalismo) é que se o sola fide fica reduzido a algo vazio. A existenciali zação da fé é importante, penso eu, mas não se pode esquecer que a fé cristã tem raízes concretas na história. Bultmann, talvez sem se dar conta, despreza a história.
ResponderExcluirEnfim, a gente segue o contato.
Paz e bem,
--
Prof. Dr. Carlos R. Caldas Filho
Escola Superior de Teologia
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião
Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo - SP
Caro André,
ResponderExcluirComo te disse quando v me brindou om o numero da revista onde publicou esse texto, está muito bem escrito e defende bem as perspectivas de Bultmann.
Gosto especialmente das partes em negrito, onde vc destaca a centralidade da teologia da cruz, algo tão caro a Lutero, no pensamento de Bultmann, e ainda, na oposição que Bultmann fez ao liberalismo teológico.
Parabéns, amigo.