segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A Contribuição feminina no moderno pensamento cristão



Jesus Cristo tinha um comportamento completamente revolucionário em seu relacionamento com as mulheres de sua época. Ao contrário de parcela significativa dos líderes religiosos, políticos e filosóficos influentes de seu contexto histórico, convivia com o gênero feminino de forma igualitária. São numerosas as passagens bíblicas que revelam diálogos surpreendentes entre Cristo e personagens femininas, sendo que, em determinados casos, o próprio mestre deixou-se persuadir pelos argumentos de desprezadas mulheres, mudando, até mesmo, de opinião (Mc 7.24-30). Os quatro evangelhos narram a participação decisiva de mulheres no ministério de Jesus, destacando-se a figura de Maria Madalena, considerada por verdadeiros gigantes da teologia cristã, como Gregório de Antioquia e Pedro Abelardo, apóstola dos apóstolos.

Ainda no início do movimento cristão, a participação feminina, até mesmo em postos de comando e influência, foi atestada pela própria Bíblia. Personagens como Lídia, Febe, Priscila, Junia, Evódia, Síntique comprovam esta tese.

No entanto, com o passar do tempo e com a institucionalização do cristianismo, este absorveu boa parte do machismo predominante na sociedade como um todo. Desta forma, a influência feminina na jovem igreja cristã foi, gradativamente, relegada a segundo plano.

Durante todo o período medieval e até mesmo na época da reforma protestante, raras vozes femininas foram ouvidas. Pregadoras leigas valdenses e posteriormente calvinistas, assim como místicas católicas, como Teresa de Ávila, compunham uma minoria bastante reprimida.

Foi apenas no final do século XIX que o pensamento teológico feminista deu seus primeiros passos, tendo como ponto de partida o projeto desenvolvido pela presbiteriana estadunidense Elisabeth Cady Stanton, denominado A Bíblia da Mulher. Importante líder abolicionista e feminista em seu país, Cady Stanton, como cristã, não aceitava a interpretação machista das Escrituras. Assim, com outras mulheres versadas nas línguas bíblicas originais, publicou, entre 1895 e 1898, dois volumes voltados à interpretação do texto sagrado sob um prisma feminino. A Bíblia da Mulher tinha como meta ressaltar a importância do sexo feminino na história sagrada, assim como reinterpretar de uma forma libertária os textos considerados machistas e preconceituosos.

Após este primeiro estágio, a assim chamada teologia feminista seguiu linhas diferentes. Algumas teólogas abandonaram por completo o cristianismo por considerá-lo incompatível com a luta em prol da emancipação feminina. É o caso da anteriormente católica Mary Daly, que afirma em sua obra “Além de Deus, o Pai”, que a linguagem fundadora do cristianismo é voltada, exclusivamente, para a manutenção do poder masculino. Outras, como Carol Christ, Elga Sorge e Elizabeth Gould Davis, decidiram retornar às antigas tradições pagãs, onde o culto a divindades femininas era bastante influente. Também houve uma revitalização por parte destas pensadoras da antiga forma de magia celta denominada Wicca, sendo as principais divulgadoras Miriam Simos e Zsuzsanna Budapest.

Não obstante esta radical ruptura com a tradição judaico-cristã promovida por algumas religiosas, parcela majoritária das teólogas permaneceu dentro do cristianismo, tendo como meta continuar o trabalho iniciado por Cady Stanton e suas colegas. Dentre este grupo predominante, destacam-se os nomes de Rosemary Ruether e Elisabeth Fiorenza.

Ligadas ao catolicismo romano, escreveram teses fundamentais para que a teologia feminista cristã atingisse a maturidade. Dentre os vários livros de autoria de Elisabeth Fiorenza, podemos destacar o clássico “Em Memória Dela”, onde o importante papel histórico exercido pelas mulheres na formação do cristianismo é relembrado. Já a principal obra de Rosemary Ruether, “O Sexismo e a linguagem sobre Deus”, procura oferecer uma teologia sistemática cristã com claro enfoque feminista.
Porém, como já foi comentado, o pensamento teológico feminista cristão teve seu nascedouro dentro do protestantismo. Desta forma, vamos nos ater a algumas mulheres de confissão evangélica responsáveis pelo desenvolvimento do pensamento cristão ao redor do mundo.

Suzanne de Diétrich (1891-1981)

Não podemos considerar esta francesa como uma teóloga feminista, já que sua teologia não tinha como foco primordial a situação da mulher. Mas a importância desta leiga vinculada à Igreja Reformada de seu país prova de maneira cabal a dedicação de várias mulheres no desenvolvimento do cristianismo.

Portadora de uma grave deficiência física que dificultava sua locomoção, esta engenheira eletricista teve um papel fundamental na articulação dos movimentos estudantis cristãos na primeira metade do século XX, chegando a fazer parte do Comitê Executivo da Federação Mundial de Estudantes Cristãos. Entusiasta do movimento ecumênico foi, por um bom tempo, instrutora do Instituto Ecumênico Bossey, vinculado ao Conselho Mundial de Igrejas. No aspecto teológico, a grande contribuição de Suzanne pode ser percebida na forma como a mesma interpretava a Bíblia Sagrada. Claramente influenciada pela teologia dialética de Karl Barth e Emil Brunner, procurava transmitir a mensagem central do texto purificada das meras tradições humanas. Deixou verdadeiras pérolas no tocante a interpretação bíblica. Dentre vários livros, podemos destacar: “A Descoberta da Bíblia”, “Uma Palavra Sempre Viva”,Como ler a Bíblia hoje?” e “O Desígnio de Deus”.

Jane Dempsey Douglas (1933- )

Teóloga estadunidense, é professora emérita de teologia histórica na Universidade de Princeton (EUA). Vinculada à Igreja Presbiteriana dos EUA (PCUSA), foi presidente da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas entre 1990-1997. Sua produção literária e acadêmica é bastante vasta, estando focada em uma interpretação contemporânea da tradição reformada, em questões sociais e, principalmente, no relacionamento entre mulheres e o cristianismo. Dentre suas várias obras, é digna de destaque “Mulheres, Liberdade e Calvino”, onde mostra que o reformador francês foi o mais aberto e progressista no tocante ao papel da mulher na sociedade e na igreja. Segundo Jane Douglas, Calvino considerava as restrições paulinas a respeito da atuação feminina na igreja vinculadas a um determinado contexto social. Assim, deveriam ser abolidas em um futuro próximo.

Elsa Tamez (1951- )

Metodista mexicana, é uma das principais expoentes da Teologia da Libertação Latino-Americana. Reside e trabalha na Costa Rica, exercendo seu ministério como biblista e professora na Universidade Bíblica Latino-Americana, da qual foi reitora por vários anos. É casada e mãe de dois filhos. Doutora em teologia pela Universidade de Lausanne, Suíça, foi membro com destaque na comissão de educação teológica do Conselho Mundial de Igrejas, contribuindo com numerosas organizações, como o Conselho Latino-Americano de Igrejas, Conselho Metodista Mundial e a Associação de Teólogos do Terceiro Mundo. Como teóloga da libertação, Elsa se divide entre a temática social e a questão de gênero, sendo o feminismo cristão assunto constante em seus escritos.

Seu livro “As Mulheres no movimento de Jesus, o Cristo” demonstra a atitude libertadora de Jesus para com as mulheres e a posição de destaque que elas ocuparam nas primeiras comunidades cristãs. Outras obras são dignas de menção: “A Bíblia dos Oprimidos” e “A Hora da Vida- Leituras Bíblicas”, onde a conversão a Cristo não é interpretada de uma forma meramente individual ou moralista, mas como uma radical mudança em prol da vida. Através do processo de conversão, o crente ingressa em um verdadeiro combate contra todo o tipo de opressão, discriminação e injustiça social.

Elaine Storkey (1943- )

Teóloga, filósofa e socióloga inglesa, é uma das principais expoentes do feminismo evangélico. Ligada ao grupo evangélico da Igreja Anglicana Britânica, escreveu, em 1985, “O Que Está Certo no Feminismo”. Nos dizeres de Tony Lane, doutor em teologia pelo London Bible College: “ Elaine insiste num feminismo biblicamente baseado como o terceiro caminho entre o antifeminismo cristão e um feminismo que se separa do ensino bíblico”. O trecho abaixo escrito por Elaine confirma a percepção de Lane:

As feministas cristãs não estão querendo qualquer batalha de poder com os homens. Isto seria estranho à sua agenda. Nem estão querendo construir uma realidade totalmente feminina que lave suas mãos de qualquer envolvimento com o outro sexo. Mas elas não estão felizes simplesmente por se introduzirem num alçapão assinalado mulher e viverem suas vidas de acordo com um jogo de valores culturais determinados e essencialmente não-bíblicos. A mensagem que elas trazem é uma mensagem de libertação, e é para os homens também”.

Além da atividade decisiva destas mulheres em prol da teologia cristã, muitas outras exercem uma profícua missão no campo do pensamento cristão. Em nosso continente latino americano, podemos destacar o trabalho realizado pela pastora presbiteriana cubana Ofélia Ortega, reitora do Seminário Teológico Evangélico de Matanzas e secretária executiva por quase uma década do Programa de Educação Teológica para América Latina e Caribe do Conselho Mundial de Igrejas. No Brasil, onde a teologia feminista cristã ainda engatinha, as metodistas Sandra Duarte de Souza e Tânia Sampaio representam o que de melhor e mais avançado há nesta linha teológica.

Ao contrário do que é pregado por grupos fundamentalistas, o desenvolvimento de uma teologia feminista de cunho claramente cristã, acompanhada por uma crescente participação das mulheres nos mais diversos ministérios ordenados, chegando, muitas vezes, a postos de liderança em muitas denominações, não reflete nenhum tipo de apostasia, mas, sim, o retorno aos tempos iniciais do cristianismo, quando homens e mulheres, seguindo de forma clara o exemplo de Jesus Cristo, exerciam o ministério em pé de igualdade.

Por André Tadeu de Oliveira



A Tradição Reformada - Uma Maneira de ser a comunidade Cristã - John H. Leith (Apêndice G: Ricardo W. Irwin e Eduardo Galasso Faria) Pendão Real.



Maria Madalena - Uma Perspectiva Feminina das Origens Cristãs - Priscila C. Nagatomo - Editora Reflexão.



Dicionário Brasileiro de Teologia - ASTE.



A Teologia do Século XX - Rosino Gibellini – Loyola.



Pensamento Cristão - Da Reforma à Modernidade - Tony Lane - Abba Press.



A Tapeçaria da Teologia Cristã - Gregory C. Higgins –-Loyola.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Simone Weil, a filósofa da Graça


Ainda bastante desconhecida no Brasil, principalmente no meio evangélico, a vida e obra da filósofa francesa Simone Weil são um testemunho contumaz do poder e eficácia da graça divina.

Nascida em Paris, em 3/2/1909, foi criada no seio de uma família judia claramente agnóstica. Seu pai, Bernard, um médico de origem alemã, e sua mãe, Salomea Reinherz, formavam um casal bastante feliz e harmonioso.

Junto com seu irmão André, que posteriormente se tornaria um matemático de renome, Simone cresceu em um lar absolutamente indiferente a assuntos religiosos. No lugar das histórias do povo hebreu narradas no Antigo Testamento, os irmãos Weil foram introduzidos ao mundo dos contos e fábulas dos conhecidos escritores alemães, os irmãos Grimm, e na rica mitologia grega. O amor à leitura era tão grande que, aos cinco anos, Simone já tinha aprendido a ler, tendo escrito, com apenas 10 anos, sua primeira obra, um pequeno conto chamado “Os duendes do fogo”.

Inteligência precoce, a jovem judia parisiense passou por uma grande crise interna, cobrando a si própria e considerando seus conhecimentos insuficientes. Não obstante, com 15 anos obteve seu bacharelado em filosofia, tendo passado mais 3 anos em intensa preparação acadêmica, a fim de aperfeiçoar seus conhecimentos filosóficos na renomada Escola Superior de Paris. Este período, sob a orientação do pensador Emile Chartier, seria fundamental para toda a futura existência de Simone. Além de Platão, Descartes, Kant, Hegel e Marx, a até então estudante não religiosa teria seus primeiros contatos com a história das grandes religiões mundiais. Foi, também, uma das primeiras mulheres a se graduar em tão prestigiosa instituição.

Em 1931, foi nomeada professora de filosofia em uma escola para moças na cidade de Le Puy. Refletindo o recente interesse adquirido por assuntos religiosos, Simone escreveu a seguinte carta a seus pais: “Peço-vos enviar-me o Novo Testamento em grego que está em minha biblioteca. Foi o passo inicial da atuação da graça divina em sua vida. Ao mesmo tempo, experimenta inúmeros problemas de saúde, sendo a enxaqueca um mal que iria acompanhá-la até seus últimos dias.

Neste período como professora, Simone iniciou seu trabalho político. Acompanhou de perto o sofrimento dos operários da pequena Le Puy. Ingressando no movimento sindical, foi a principal organizadora de uma greve geral que iria paralisar toda a cidade. Como resultado, foi convidada a se retirar.

Aproveitando o período de férias de verão, Simone viaja até a Alemanha, onde presenciou o crescimento do nazismo. Foi uma das primeiras pessoas, em 1932, a denunciar a barbárie que tomou conta de toda a Alemanha, assim como a passividade dos social-democratas e o estranho silêncio dos comunistas stalinistas. De volta à França, continuou seu trabalho como professora em Auxerre, Roanne e Saint-Etienne, nesta última, dando aulas gratuitas aos mineiros.

Consciente de que sua atuação como professora seria insuficiente para fazê-la compreender a vida real de um operário, Simone licenciou-se do magistério e ingressou, em 1934, no corpo de funcionários da Renault, conhecida fábrica de automóveis franceses. Devido à sua frágil saúde, não suportou o pesado ritmo da linha de montagem, abandonando este projeto. Após retomar, a contragosto, a docência na cidade de Bourges, dedicou parte de seu tempo ao trabalho agrícola em uma pequena fazenda da região. Agora conhecia, na prática, a exploração cometida contra operários e camponeses.

Insatisfeita com o crescimento do fascismo na Europa, alistou-se, em 1936, como voluntária em uma brigada anarquista na guerra civil espanhola. Lá, teve sua grande decepção com a natureza humana. Presenciou cenas de barbárie praticadas não apenas por fascistas, mas pelos defensores da liberdade: anarquistas, comunistas e republicanos em geral. Completamente despreparada para a vida militar, foi resgatada por seus familiares.

Estimulada pelos pais, iniciou uma viagem que alterou completamente o rumo de sua vida. Passando pela Itália, Simone participou de cerimônias religiosas nas grandes catedrais, sendo tocada pela beleza do cristianismo. Começou a enxergar uma beleza “mística” nas obras renascentistas. Visitando a pequena cidade de Assis, uma grande experiência seria o marco inicial de sua conversão ao cristianismo. Ao entrar na pequena capela reformada por Francisco de Assis no século XIII, a agnóstica Simone foi tomada por um sentimento indescritível. “Algo mais forte que eu me obrigou, pela primeira vez na minha vida, a me por de joelhos e orar, narra a filósofa em escritos posteriores. Foi o início de um processo de descoberta do Cristo vivo, processo este não buscado por si própria, mas fruto da misteriosa e irresistível graça de Deus.

De volta a seu país, reiniciou o magistério na pequena cidade operária de Saint-Quentin. Ao mesmo tempo, devora parte da Bíblia, principalmente os livros de Jó, Isaías e Daniel, assim como todo o Novo Testamento em grego. Em abril de 1938, sua jornada espiritual chegou ao ápice. Durante a semana santa, Simone participou das cerimônias realizadas na abadia católica de Solesmes. A solene liturgia, o silêncio e os cantos a tocaram profundamente. “Senti (sem estar absolutamente preparada para tanto, uma vez que jamais li os místicos) uma presença mais pessoal, mais certa, mais real do que a de um ser humano, inacessível aos sentidos e à imaginação, análoga ao amor que transparece do mais terno sorriso de ser amado. A partir daquele momento, o nome de Deus e de Cristo se entrelaçaram de modo cada vez mais irresistível aos meus pensamentos”. Tal experiência foi à confirmação do fato ocorrido em Assis.

Agora como cristã, continua sua intensa leitura bíblica. Iniciou uma bela e fecunda amizade com o padre católico-romano Joseph Marie Perrin e com leigos católicos e evangélicos. Neste mesmo período, inúmeras experiências místicas a marcaram. Ao mesmo tempo, não abandonou sua luta pela justiça, continuando a denunciar as mazelas do capitalismo, o autoritarismo do regime soviético e o crescimento do nazi-fascismo.


Apesar de cristã convicta, recusou-se a receber o batismo oferecido pelo simpático padre Perrin por não concordar com a doutrina romana, que considerava a verdadeira igreja de Cristo uma instituição centralizada em Roma. Mesmo de forma inconsciente, Simone fazia eco ao tradicional conceito protestante de que a igreja cristã não está restrita a uma denominação, mas sim no conjunto de todos os crentes. Fora isto, sentia que sua missão deveria ser exercida fora dos muros da igreja, entre aqueles que não faziam parte da igreja oficial.

Com a queda da França diante da Alemanha nazista, Simone, pelo fato de ser judia, foi excluída do magistério. Passou algum tempo reclusa em uma empresa agrícola, onde uniu o trabalho à oração. No entanto, a situação para judeus na França ocupada tornou-se insustentável. Em 14/5/1942, junto com seus pais, imigrou para Nova York. Lá chegando, vive uma rica experiência cristã ecumênica. Além de participar vividamente das atividades dos católicos exilados franceses, enriqueceu sua espiritualidade com os batistas negros nos subúrbios da grande metrópole estadunidense.

Após breve período nos EUA, mudou-se para Londres, Inglaterra, onde participou ativamente da resistência francesa, sendo correspondente do jornal “France Libre”. Sua saúde piorou gradativamente, sendo acometida por uma tuberculose. Faleceu no dia 24/8/1943, no sanatório Ashford, com apenas 34 anos de idade. Segundo alguns biógrafos, Simone recebeu, em seu leito de morte, o sacramento do batismo das mãos de uma mulher leiga, sua amiga Simone Deitz.

A vida e a obra de Simone Weil são verdadeiros resumos da forma graciosa e soberana da atuação divina. Sem qualquer propensão a religiosidade, Simone foi atraída para Cristo. Sem deixar de lado o conhecimento, tanto teológico como filosófico, a jovem francesa deu prioridade à comunhão íntima com Deus. Tal comunhão não se contentou com a mera contemplação, mas exigiu uma atuação real e contundente. Uma vocação neste mundo.

Fiel à doutrina da cruz, a filósofa, militante política e cristã Simone Weil nos ensina que Deus se faz conhecido no sofrimento, nas vicissitudes, e não em uma vida de prazer e prosperidade. Em resumo, encontramos nesta singular personalidade uma feliz filósofa da graça.

Simone Weil por ela mesma:

Há indivíduos que procuram elevar sua alma como um homem que salta sempre com os pés juntos, na esperança de que a força de saltar cada vez mais alto consiga, um dia, em vez de sempre cair, subir até o céu. Porém, não podemos dar sequer um passo em direção ao céu; a direção vertical está fechada para nós. Mas, se fitarmos demoradamente o céu, é Deus que desce e nos arrebata”.

A amizade não se procura, não se sonha, não se deseja; se exerce
!”

Fonte: Abismos e Ápices, Giulia Paola Di Nicola e Attilio Danese, Edições Loyola.

POR ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Minha primeira liturgia


Abaixo, estou publicando minha primeira liturgia. Além de prepará-la, fui o principal celebrante e pregador. Esta liturgia foi à base do culto deste último domingo, dia 16, na Congregação Presbiteriana Independente do Jardim Santa Fé, região oeste da capital paulista. Para minha surpresa, os membros, majoritariamente humildes, já estão habituados a uma liturgia mais trabalhada e rica em simbolismo cristão. Santa Fé é uma prova cabal de que mau gosto litúrgico não possui nenhuma vinculação com camadas socialmente mais humildes.


As leituras bíblicas realizadas no terceiro momento da celebração, denominado “ Momento de Louvor”, foram retiradas do lecionário ecumênico mundial e estão de acordo com o período litúrgico que estamos vivendo, o Tempo Comum.

O Lecionário Ecumênico possui duas finalidades para o culto:


Unir todos os cristãos espalhados pelo mundo, independentemente de sua tradição confessional, através da leitura bíblica.


• Realizar estas leituras tendo como base o calendário litúrgico cristão. O calendário litúrgico é essencial para uma noção pedagógica do culto cristão, pois somos instruídos a respeito da ação da Deus na história humana em diferentes períodos.

SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM


COR LITÚRGICA: VERDE

I - Adoração



• Prelúdio/ Conjunto de Flautas
• Convite à adoração: Salmo 117 – Leitura em uníssono
• Hino de Adoração: Ó Rei Sublime – CTP 29
• Oração de Adoração

ll - Contrição


• Leitura Bíblica Alternada: 1João 1. 8- 10
• Hino: Que estou fazendo? CTP – 297
• Oração Silenciosa.
• Litania de Confissão:

Oficiante: Pai Santo, confessamos que temos falhado em amar-te de todo coração, alma e mente. Temos ignorado os teus mandamentos, e nos desviado dos teus caminhos.

Povo: Em tua misericórdia, ouve nossa oração.


Oficiante: Senhor Jesus Cristo, confessamos que não temos amado o nosso próximo como nós mesmos. Temos falhado em servir aos necessitados e em levar a tua história de amor para toda criatura.


Povo: Em tua misericórdia, ouve nossa oração.


Oficiante: Santo Espírito, confessamos que somos lentos em responder ao teu impulso. Preferimos seguir nossa própria vontade, insensíveis à tua presença insistente.

Povo: Em tua misericórdia, ouve nossa oração.


Oficiante: Bendita Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, tem piedade de nós. Perdoa nosso pecado e ressuscita-nos para uma vida nova, a fim de que possamos servir-te e honrar o teu santo nome.

• Hino: A Alegria Está No Coração: CTP- 50

III - Momento de Louvor

• Cântico
• Leitura do Velho Testamento: Isaías 49. 1-7
• Cântico
• Leitura do Novo Testamento: 1 Coríntios 1.1-9
• Ofertório
• Oração de Intercessão

IV - Edificação


• Oração de Iluminação para a Leitura Bíblica
• Leitura Bíblica pelo pregador
• Proclamação da Palavra
• Oração
• Hino: Fortalece A Tua Igreja – CTP 151

V - Serviço e Missão


Afirmação de Fé (Livro Anglicano de Oração Comum, 1549): Creio em Deus, o Pai, que me criou e criou o mundo. Creio em Deus, o Filho, que me redime e redime todos os homens. Creio em Deus, o Espírito Santo, que me santifica e santifica a todos os eleitos de Deus.
• Oração do Pai Nosso
• Moto: “Buscando a Deus e a Felicidade da Família”
• Bênção e Poslúdio / Conjunto de Flautas
• Avisos e Agradecimentos

sábado, 15 de janeiro de 2011

Isto é Mackenzie ! Minha formatura


Ontem foi um dia bastante marcante em minha vida. Após quatro anos de estudos, noites em claro e várias divagações, colei grau como bacharel em teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Pensei muito em escrever este breve post, pois não sou nenhum garoto de 22 anos. Além do mais, trata-se de minha segunda graduação. Porém, encaro como sendo a minha verdadeira graduação.

Jornalista diplomado, uma espécie nos dias de hoje absolutamente desnecessária, graças ao forte lobby dos grandes meios de comunicação, confesso que me arrependi em ter cursado jornalismo. Adoro escrever. Acredito que faço isso razoavelmente. Também amo ler quase tudo que encontro na minha frente. Tenho revistas e jornais de mais de 15 anos atrás. Coisas completamente inúteis aos olhos de outras pessoas. Aos meus, não!

No entanto, sei que escrever razoavelmente não é uma qualidade restrita aos comunicólogos. A mesma coisa pode ser afirmada a respeito do importante hábito da leitura. Pessoas de outras áreas acadêmicas, e até mesmo sem nenhuma formação específica, possuem ambas as qualidades.

Assim, tenho certeza que se tivesse cursado história, sociologia ou filosofia, estaria com um leque de conhecimento bem maior. Mas como diz o famoso ditado, não adianta chorar o leite derramado!

Acredito que me encontrei. Desde que retornei ao cristianismo, em 2002, adquiri o hábito de consumir muita literatura teológica. Devido ao meu importante e enriquecedor período como agnóstico, confesso, minhas novas leituras teológicas voltaram-se mais para o campo progressista dentro da teologia cristã. Não ao chamado liberalismo clássico, visão que, erroneamente, muitos associam a minha pessoa. Não suporto rótulos, principalmente teológicos, mas poderia ser enquadrado em uma certa “neo-ortodoxia de esquerda” ou em um “ liberalismo evangélico”. Contudo, após um longo período alimentado por um saudável e importante ceticismo, não poderia ser o antigo “fundamentalista light” dos meus tempos de adolescente. Na minha modesta opinião, o(a) bom(a) teólogo(a) cristão(a)deve seguir a cartilha de John H. Leith, importante teólogo presbiteriano estadunidense, infelizmente já falecido. Vejamos o pensamento de Leith :

“A tradição viva e aberta da Igreja possui componentes liberais e conservadores. Ela assimilou a sabedoria do passado e está aberta ao futuro. Os bons teólogos examinam sua própria tradição no contexto da teologia e da Igreja toda. E a Igreja precisa aprender não só com aqueles que a amam, mas também com aqueles que a rejeitam, como os marxistas”.

Em 2006, um ano antes de ter sido aprovado no vestibular do Mackenzie, comecei esta labuta teológica em uma esfera pública. Foi publicado pela Revista Alvorada, da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, meu primeiro texto. Abordei um pouco da história de Dietrich Bonhoeffer, célebre teólogo e mártir luterano alemão, enfocando em uma possível influência para o jovem cristão do século XXI. Inclusive, serei eternamente grato a editora da revista, a querida Sheila Amorim. Nunca sofri nenhum tipo de censura neste importante órgão de comunicação presbiteriano independente . E olha que escrevi algumas matérias relativamente polêmicas dentro do ambiente evangélico brasileiro.

No final do mesmo ano, passei no vestibular do Mackenzie, uma universidade bastante conceituada em todo o Brasil, estando entre as quatro melhores dentre as inúmeras entidades de ensino superior ligadas à iniciativa privada no país . Aliás, como nós, mackenzistas, com um pouco de arrogância, gostamos de dizer; “ 140 anos de história não é para qualquer um !”

Em 2007, iniciei meus estudos. Foram quatro anos de bastante aprendizado. Além do conhecimento acadêmico, fiz grandes amigos e vivi o ambiente universitário com intensidade.

Agradeço a Deus, e ao Mackenzie, por esta oportunidade.

Por André Tadeu de Oliveira.

Abaixo, algumas fotos da cerimônia de colação de grau. Estou ao lado de meu pai e irmão.


















terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Deus é mito



Estou publicando um pequeno fragmento de autoria do Rev. Domício Pereira de Mattos, mestre em teologia pelo Union Theological Seminary. Foi professor, por muitos anos, no Departamento de Ciências das Religiões da Universidade Federal de Juiz de Fora - MG e pastor da Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo, Rio de Janeiro- RJ.

Grande pastor, pensador e teólogo, Domício foi responsável pela reedição da famosa “Imprensa Evangélica", primeiro jornal protestante brasileiro, fundado em 1864 pelo missionário estadunidense Ashbel Green Simonton, pioneiro do presbiterianismo brasileiro.

Ainda como jornalista, o Rev. Domício esteve na direção do “Brasil Presbiteriano", até hoje órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB). Durante sua atuação como editor neste periódico, a linha editorial sofreu uma profunda modificação, concedendo espaço para uma análise progressista dos problemas sociais brasileiros, assim como passou a dialogar com diferentes linhas teológicas. Obviamente, tal orientação seria perseguida pelos fundamentalistas presentes na cúpula da IPB. Como resultado, Domício foi destituído de seu cargo.

Alguns anos depois, desligou-se da IPB, sendo um dos organizadores da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU). Faleceu recentemente.

Honra a quem Honra!

Por André Tadeu de Oliveira

Vamos ao pequeno texto:

“Mito significa uma verdade séria, profunda, inacessível, irretorquível, mas inexplicável. Extrapola a minha razão, mas é verdade. Deus é o maior de todos os mitos. Quem pode explicar sua existência? Quem pode negá-la? É tão difícil ser crente, como é difícil ser ateu”.

Domício Pereira de Mattos


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sou Cristão. Será que sou um acéfalo ?


Não tenho a pretensão de escrever post nenhum! Não estou com cabeça. Além de estar repleto de problemas, tenho várias atividades pendentes. Trata-se de um simples desabafo.


Navegando em um site cético de excelente qualidade, onde, inclusive, tenho vários amigos, deparei-me com a frase transcrita abaixo, citada por um dos participantes do fórum de comentários. Portanto, o referido site não pode ser culpado por esta opinião. Vejamos a “pérola”:

“Ou seja, um bom cristão é também um bom acéfalo”.


Quanta humildade, não? Quanta tolerância, certo? Será que o autor de tal comentário seria PHD na Sorbonne IV? Acredito que não!

Bem, sou cristão. Mesmo não me considerando nenhuma sumidade em assuntos culturais, acho que tenho um nível relativamente mediano. Além de ser jornalista formado, graduei-me em teologia em uma universidade considerada “ top” dentro o universo educacional privado brasileiro. Não fiz cursinho livre na faculdadezinha da igreja do apóstolo beltrano.... No meu segundo curso universitário, tive disciplinas como: sociologia geral, filosofia, história da filosofia, antropologia, psicologia e afins.

Já sei. Sujeito vai falar que teologia é uma coisa inútil, que não pode ser considerada como ciência. Tá bom. Então desafio essa pessoa a passar madrugadas em claro fazendo uma exegese de um texto bíblico em sua língua original, seja o hebraico ou grego.

Fora estes pequenos e irrelevantes fatores, acho que leio bastante. E não apenas livros religiosos. Gosto de filosofia, sociologia. Amo história.


Sei apreciar uma boa música, fugindo da famigerada indústria gospel. Tirando poucos artistas populares cristãos, meu gosto musical sacro é voltado claramente para clássicos como Bach, oratórios, solos de órgãos de tubos e etc... De resto, meu ouvido é ávido apreciador de música clássica secular, blues, MPB e do fantástico rock and roll. Mesmo este último sendo de propriedade do mitológico diabo!

Também me considero relativamente politizado. Cristão convicto, sou completamente favorável a total laicidade do estado brasileiro. Sou um fiel defensor do direito das mulheres, da comunidade GLBTT e de outras minorias, inclusive os ateus.

Portanto, acredito que estou muito distante de um acéfalo! Só que eu, André Tadeu de Oliveira, sou “pouca farinha”. Há uma lista interminável de cristãos com um lastro cultural de fazer inveja. Não vou perder meu tempo enumerando uma lista interminável de cristãos “feras” em suas respectivas áreas. Deixo esta coisinha inútil nas mãos dos apologetas cristãos fundamentalistas. Eles são bons nessas coisas.

Mas que nada (licença, grande Jorge Ben das antigas), o simples fato de alguém ser cristão torna tal pessoa acéfala. Me seguro para não me encher de cólera quando leio tamanho disparate.Não vale a pena! Além de não ser cristão, faz mal à saúde!

E pensar que já fui assim! Já menosprezei pessoas por suas idéias, por seus posicionamentos. Até mesmo por sua falta de cultura! Graças a Deus mudei! E olha que sou religioso assumido, quase ortodoxo.

Agora, tem muito humanista por aí........

Para finalizar, uma frase de Raul Rock Seixas; “É preciso ter cultura para cuspir nas estruturas”.

Significado de Acéfalo : Pessoa Burra
Pessoa sem cérebro
Pessoa ignorante
PS : O citado comentarista não se referiu à minha pessoa, mas aos religiosos, em geral. Apenas respondi no lugar de todos os ofendidos.

POR ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA