A contribuição feminina no moderno pensamento cristão
Jesus Cristo tinha um comportamento completamente revolucionário em seu relacionamento com as mulheres de sua época. Ao contrário de parcela significativa dos líderes religiosos, políticos e filosóficos influentes de seu contexto histórico, convivia com o gênero feminino de forma igualitária. São numerosas as passagens bíblicas que revelam diálogos surpreendentes entre Cristo e personagens femininas, sendo que, em determinados casos, o próprio mestre deixou-se persuadir pelos argumentos de desprezadas mulheres, mudando, até mesmo, de opinião (Mc 7.24-30). Os quatro evangelhos narram a participação decisiva de mulheres no ministério de Jesus, destacando-se a figura de Maria Madalena, considerada por verdadeiros gigantes da teologia cristã, como Gregório de Antioquia e Pedro Abelardo, apóstola dos apóstolos.
Ainda no início do movimento cristão, a participação feminina, até mesmo em postos de comando e influência, foi atestada pela própria Bíblia. Personagens como Lídia, Febe, Priscila, Junia, Evódia, Síntique comprovam esta tese.
No entanto, com o passar do tempo e com a institucionalização do cristianismo, este absorveu boa parte do machismo predominante na sociedade como um todo. Desta forma, a influência feminina na jovem igreja cristã foi, gradativamente, relegada a segundo plano.
Durante todo o período medieval e até mesmo na época da reforma protestante, raras vozes femininas foram ouvidas. Pregadoras leigas valdenses e posteriormente calvinistas, assim como místicas católicas, como Teresa de Ávila, compunham uma minoria bastante reprimida.
Foi apenas no final do século XIX que o pensamento teológico feminista deu seus primeiros passos, tendo como ponto de partida o projeto desenvolvido pela presbiteriana estadunidense Elizabeth Cady Stanton, denominado A Bíblia da Mulher. Importante líder abolicionista e feminista em seu país, Cady Stanton, como cristã, não aceitava a interpretação machista das Escrituras. Assim, com outras mulheres versadas nas línguas bíblicas originais, publicou, entre 1895 e 1898, dois volumes voltados à interpretação do texto sagrado sob um prisma feminino. A Bíblia da Mulher tinha como meta ressaltar a importância do sexo feminino na história sagrada, assim como reinterpretar de uma forma libertária os textos considerados machistas e preconceituosos.
Após este primeiro estágio, a assim chamada teologia feminista seguiu linhas diferentes. Algumas teólogas abandonaram por completo o cristianismo por considerá-lo incompatível com a luta em prol da emancipação feminina. É o caso da anteriormente católica Mary Daly, que afirma em sua obra “Além de Deus, o Pai”, que a linguagem fundadora do cristianismo é voltada, exclusivamente, para a manutenção do poder masculino. Outras, como Carol Christ, Elga Sorge e Elizabeth Gould Davis, decidiram retornar às antigas tradições pagãs, onde o culto a divindades femininas era bastante influente. Também houve uma revitalização por parte destas pensadoras da antiga forma de magia celta denominada Wicca, sendo as principais divulgadoras Miriam Simos e Zsuzsanna Budapest.
Não obstante esta radical ruptura com a tradição judaico-cristã promovida por algumas religiosas, parcela majoritária das teólogas permaneceu dentro do cristianismo, tendo como meta continuar o trabalho iniciado por Cady Stanton e suas colegas. Dentre este grupo predominante, destacam-se os nomes de Rosemary Ruether e Elisabeth Fiorenza.
Ligadas ao catolicismo romano, escreveram teses fundamentais para que a teologia feminista cristã atingisse a maturidade. Dentre os vários livros de autoria de Elisabeth Fiorenza, podemos destacar o clássico “Em Memória Dela”, onde o importante papel histórico exercido pelas mulheres na formação do cristianismo é relembrado. Já a principal obra de Rosemary Ruether, “O Sexismo e a linguagem sobre Deus”, procura oferecer uma teologia sistemática cristã com claro enfoque feminista.
Jesus Cristo tinha um comportamento completamente revolucionário em seu relacionamento com as mulheres de sua época. Ao contrário de parcela significativa dos líderes religiosos, políticos e filosóficos influentes de seu contexto histórico, convivia com o gênero feminino de forma igualitária. São numerosas as passagens bíblicas que revelam diálogos surpreendentes entre Cristo e personagens femininas, sendo que, em determinados casos, o próprio mestre deixou-se persuadir pelos argumentos de desprezadas mulheres, mudando, até mesmo, de opinião (Mc 7.24-30). Os quatro evangelhos narram a participação decisiva de mulheres no ministério de Jesus, destacando-se a figura de Maria Madalena, considerada por verdadeiros gigantes da teologia cristã, como Gregório de Antioquia e Pedro Abelardo, apóstola dos apóstolos.
Ainda no início do movimento cristão, a participação feminina, até mesmo em postos de comando e influência, foi atestada pela própria Bíblia. Personagens como Lídia, Febe, Priscila, Junia, Evódia, Síntique comprovam esta tese.
No entanto, com o passar do tempo e com a institucionalização do cristianismo, este absorveu boa parte do machismo predominante na sociedade como um todo. Desta forma, a influência feminina na jovem igreja cristã foi, gradativamente, relegada a segundo plano.
Durante todo o período medieval e até mesmo na época da reforma protestante, raras vozes femininas foram ouvidas. Pregadoras leigas valdenses e posteriormente calvinistas, assim como místicas católicas, como Teresa de Ávila, compunham uma minoria bastante reprimida.
Foi apenas no final do século XIX que o pensamento teológico feminista deu seus primeiros passos, tendo como ponto de partida o projeto desenvolvido pela presbiteriana estadunidense Elizabeth Cady Stanton, denominado A Bíblia da Mulher. Importante líder abolicionista e feminista em seu país, Cady Stanton, como cristã, não aceitava a interpretação machista das Escrituras. Assim, com outras mulheres versadas nas línguas bíblicas originais, publicou, entre 1895 e 1898, dois volumes voltados à interpretação do texto sagrado sob um prisma feminino. A Bíblia da Mulher tinha como meta ressaltar a importância do sexo feminino na história sagrada, assim como reinterpretar de uma forma libertária os textos considerados machistas e preconceituosos.
Após este primeiro estágio, a assim chamada teologia feminista seguiu linhas diferentes. Algumas teólogas abandonaram por completo o cristianismo por considerá-lo incompatível com a luta em prol da emancipação feminina. É o caso da anteriormente católica Mary Daly, que afirma em sua obra “Além de Deus, o Pai”, que a linguagem fundadora do cristianismo é voltada, exclusivamente, para a manutenção do poder masculino. Outras, como Carol Christ, Elga Sorge e Elizabeth Gould Davis, decidiram retornar às antigas tradições pagãs, onde o culto a divindades femininas era bastante influente. Também houve uma revitalização por parte destas pensadoras da antiga forma de magia celta denominada Wicca, sendo as principais divulgadoras Miriam Simos e Zsuzsanna Budapest.
Não obstante esta radical ruptura com a tradição judaico-cristã promovida por algumas religiosas, parcela majoritária das teólogas permaneceu dentro do cristianismo, tendo como meta continuar o trabalho iniciado por Cady Stanton e suas colegas. Dentre este grupo predominante, destacam-se os nomes de Rosemary Ruether e Elisabeth Fiorenza.
Ligadas ao catolicismo romano, escreveram teses fundamentais para que a teologia feminista cristã atingisse a maturidade. Dentre os vários livros de autoria de Elisabeth Fiorenza, podemos destacar o clássico “Em Memória Dela”, onde o importante papel histórico exercido pelas mulheres na formação do cristianismo é relembrado. Já a principal obra de Rosemary Ruether, “O Sexismo e a linguagem sobre Deus”, procura oferecer uma teologia sistemática cristã com claro enfoque feminista.
Porém, como já foi comentado, o pensamento teológico feminista cristão teve seu nascedouro dentro do protestantismo. Desta forma, vamos nos ater a algumas mulheres de confissão evangélica responsáveis pelo desenvolvimento do pensamento cristão ao redor do mundo.
Suzanne de Diétrich (1891-1981)
Não podemos considerar esta francesa como uma teóloga feminista, já que sua teologia não tinha como foco primordial a situação da mulher. Mas a importância desta leiga vinculada à Igreja Reformada de seu país prova de maneira cabal a dedicação de várias mulheres no desenvolvimento do cristianismo.
Portadora de uma grave deficiência física que dificultava sua locomoção, esta engenheira eletricista teve um papel fundamental na articulação dos movimentos estudantis cristãos na primeira metade do século XX, chegando a fazer parte do Comitê Executivo da Federação Mundial de Estudantes Cristãos. Entusiasta do movimento ecumênico foi, por um bom tempo, instrutora do Instituto Ecumênico Bossey, vinculado ao Conselho Mundial de Igrejas. No aspecto teológico, a grande contribuição de Suzanne pode ser percebida na forma como a mesma interpretava a Bíblia Sagrada. Claramente influenciada pela teologia dialética de Karl Barth e Emil Brunner, procurava transmitir a mensagem central do texto purificada das meras tradições humanas. Deixou verdadeiras pérolas no tocante a interpretação bíblica. Dentre vários livros, podemos destacar: “A Descoberta da Bíblia”, “Uma Palavra Sempre Viva”, “Como ler a Bíblia hoje?” e “O Desígnio de Deus”.
Jane Dempsey Douglas (1933- )
Teóloga estadunidense, é professora emérita de teologia histórica na Universidade de Princeton (EUA). Vinculada à Igreja Presbiteriana dos EUA (PCUSA), foi presidente da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas entre 1990-1997. Sua produção literária e acadêmica é bastante vasta, estando focada em uma interpretação contemporânea da tradição reformada, em questões sociais e, principalmente, no relacionamento entre mulheres e o cristianismo. Dentre suas várias obras, é digna de destaque “Mulheres, Liberdade e Calvino”, onde mostra que o reformador francês foi o mais aberto e progressista no tocante ao papel da mulher na sociedade e na igreja. Segundo Jane Douglas, Calvino considerava as restrições paulinas a respeito da atuação feminina na igreja vinculadas a um determinado contexto social. Assim, deveriam ser abolidas em um futuro próximo.
Elsa Tamez (1951- )
Metodista mexicana, é uma das principais expoentes da Teologia da Libertação Latino-Americana. Reside e trabalha na Costa Rica, exercendo seu ministério como biblista e professora na Universidade Bíblica Latino-Americana, da qual foi reitora por vários anos. É casada e mãe de dois filhos. Doutora em teologia pela Universidade de Lausanne, Suíça, foi membro com destaque na comissão de educação teológica do Conselho Mundial de Igrejas, contribuindo com numerosas organizações, como o Conselho Latino-Americano de Igrejas, Conselho Metodista Mundial e a Associação de Teólogos do Terceiro Mundo. Como teóloga da libertação, Elsa se divide entre a temática social e a questão de gênero, sendo o feminismo cristão assunto constante em seus escritos.
Seu livro “As Mulheres no movimento de Jesus, o Cristo” demonstra a atitude libertadora de Jesus para com as mulheres e a posição de destaque que elas ocuparam nas primeiras comunidades cristãs. Outras obras são dignas de menção: “A Bíblia dos Oprimidos” e “A Hora da Vida- Leituras Bíblicas”, onde a conversão a Cristo não é interpretada de uma forma meramente individual ou moralista, mas como uma radical mudança em prol da vida. Através do processo de conversão, o crente ingressa em um verdadeiro combate contra todo o tipo de opressão, discriminação e injustiça social.
Elaine Storkey (1943- )
Teóloga, filósofa e socióloga inglesa, é uma das principais expoentes do feminismo evangélico. Ligada ao grupo evangélico da Igreja Anglicana Britânica, escreveu, em 1985, “O Que Está Certo no Feminismo”. Nos dizeres de Tony Lane, doutor em teologia pelo London Bible College: “ Elaine insiste num feminismo biblicamente baseado como o terceiro caminho entre o antifeminismo cristão e um feminismo que se separa do ensino bíblico”. O trecho abaixo escrito por Elaine confirma a percepção de Lane:
“As feministas cristãs não estão querendo qualquer batalha de poder com os homens. Isto seria estranho à sua agenda. Nem estão querendo construir uma realidade totalmente feminina que lave suas mãos de qualquer envolvimento com o outro sexo. Mas elas não estão felizes simplesmente por se introduzirem num alçapão assinalado mulher e viverem suas vidas de acordo com um jogo de valores culturais determinados e essencialmente não-bíblicos. A mensagem que elas trazem é uma mensagem de libertação, e é para os homens também”.
Além da atividade decisiva destas mulheres em prol da teologia cristã, muitas outras exercem uma profícua missão no campo do pensamento cristão. Em nosso continente latino americano, podemos destacar o trabalho realizado pela pastora presbiteriana cubana Ofélia Ortega, reitora do Seminário Teológico Evangélico de Matanzas e secretária executiva por quase uma década do Programa de Educação Teológica para América Latina e Caribe do Conselho Mundial de Igrejas. No Brasil, onde a teologia feminista cristã ainda engatinha, as metodistas Sandra Duarte de Souza e Tânia Sampaio representam o que de melhor e mais avançado há nesta linha teológica.
Ao contrário do que é pregado por grupos fundamentalistas, o desenvolvimento de uma teologia feminista de cunho claramente cristã, acompanhada por uma crescente participação das mulheres nos mais diversos ministérios ordenados, chegando, muitas vezes, a postos de liderança em muitas denominações, não reflete nenhum tipo de apostasia, mas, sim, o retorno aos tempos iniciais do cristianismo, quando homens e mulheres, seguindo de forma clara o exemplo de Jesus Cristo, exerciam o ministério em pé de igualdade.
POR : ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA
Referências Bibliográficas
A Tradição Reformada - Uma Maneira de ser a comunidade Cristã - John H. Leith (Apêndice G: Ricardo W. Irwin e Eduardo Galasso Faria) Pendão Real.
Maria Madalena - Uma Perspectiva Feminina das Origens Cristãs - Priscila C. Nagatomo - Editora Reflexão.
Dicionário Brasileiro de Teologia - ASTE.
A Teologia do Século XX - Rosino Gibellini – Loyola.
Pensamento Cristão - Da Reforma à Modernidade - Tony Lane - Abba Press.
A Tapeçaria da Teologia Cristã - Gregory C. Higgins –-Loyola.
sabe o que mais me impressiona? a variedade de assuntos "cristãos" (no sentido religioso mais amplo, tipo, linhas de doutrina, pessoas, livros) que vc se interessa em divulgar. eu acho demais.
ResponderExcluirsem contar, importantissimo.mulheres que não se focaram exclusivamente nos aspectos machistas que podem ser encontrados no cristianismo, mas que se comprometeram com uma outra abordagem e interpretação da religião. fantastico.
me desculpe, mas não pode deixar de dizer... freguesia!!!
beijo
Obrigado pelos comentários
ResponderExcluirAGORA VOCE PODE!
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