terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Protestantismo em imagens. Luteranismo . Parte I

Há um forte consenso a respeito da pobreza simbólica existente no protestantismo. Tillich já dizia que o elemento simbólico é fundamental para o cultivo da religiosidade. Segundo o teólogo alemão, esta seria a grande fraqueza do protestantismo diante dos outros dois grandes ramos do cristianismo, o catolicismo romano e a ortodoxia oriental. Religião sem símbolo, sem mito, torna-se um mero apanhado de pressupostos dogmáticos. Neste ponto, o pentecostalismo, a despeito de sua iconoclastia, possui uma maior proximidade com o aspecto misterioso e místico da religião, graças a sua conhecida catarse ritualística.

Dentre os três grandes ramos do protestantismo histórico ou magistral, considerando o anglicanismo como parte dessa família, o calvinismo foi o que demonstrou uma maior antipatia para com o simbolismo litúrgico.

Fora do ambiente anabatista, foi a tradição reformada responsável pela solidificação do sentimento iconoclasta predominante durante boa parte da história do protestantismo. São conhecidas as histórias de atos de vandalismo contra igrejas, ocorridos em países de maioria calvinista, como Holanda, Suíça e Escócia. O famoso adágio reformado “quatro paredes e um sermão” tornou-se regra nas jovens igrejas reformadas. Aproveitando a estrutura arquitetônica das esplêndidas igrejas romanas medievais, os calvinistas eliminaram, por completo, imagens, vitrais e até mesmo órgãos de suas igrejas. Segundo um amigo que viajou recentemente à Holanda, uma importante igreja reformada de Amsterdã apresenta todas suas paredes laterais caiadas, devido à virulenta retirada de belas obras de arte sacra em seu recinto interno.

Tal fobia do protestantismo reformado diante da representação física do sagrado é oriunda de um aspecto central de sua doutrina; a absoluta transcendência de Deus. Para Calvino, além do perigo de gerar práticas idólatras, a representação do sagrado, por meio de representações materiais, seria uma afronta à soberania divina. O reformador genebrino ensinava ser completamente impossível um elemento finito representar algo infinito, como Deus.

Partindo de um pensamento oposto, Martinho Lutero acreditava que o finito, de forma limitada, poderia demonstrar algo do Sagrado. Assim, o luteranismo não criou empecilhos para o desenvolvimento da arte sacra em seu meio.

Retornando ao universo reformado. A tendência de aversão à arte sacra, principalmente no seu aspecto iconográfico, foi gradativamente revertida em meados do século 19, como resultado de um despertamento litúrgico ocorrido no seio de várias denominações presbiterianas/reformadas européias e até mesmo estadunidenses. Nos dias atuais, principalmente no hemisfério norte, é comum deparar-se com belas igrejas calvinistas ostentando cruzes tradicionais, célticas e vitrais decorados com cenas bíblicas.

Bem, este texto foi apenas uma pequena introdução a respeito da arte sacra dentro do protestantismo. Já ensaiei escrever sobre este assunto em outro post, onde apresentei minha comunidade eclesial, a Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, conhecida como Catedral Evangélica, como modelo de arquitetura gótica dentro do protestantismo paulistano, a despeito de seus vitrais ao melhor espírito puritano, isto é, sem representações físicas.

Acredito que um assunto tão interessante possa ser compreendido não por palavras, mas por imagens. Assim, estarei divulgando fotos de igrejas protestantes ao redor do mundo, majoritariamente localizadas em países onde o protestantismo foi um dos elementos formadores de sua cultura. Para facilitar, estarei dividindo os templos e demais monumentos arquitetônicos de acordo com sua respectiva tradição. Para começo de conversa, vamos viajar pelo aspecto artístico do luteranismo. Boa viagem.

Obs : Não sou luterano, mas reformado ( presbiteriano independente ) .

POR ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA



















































Cristo é o caminho, o Cristianismo é o desvio. Por Jefferson Ramalho


A passagem do Novo Testamento que me levou a pensar no que escrevi nesta reflexão foi aquela em que o Mestre curou o criado de um centurião romano.

O texto é fantástico como tantos outros apresentados nos evangelhos!

Mas dois versículos que sempre passam despercebidos são centrais em todo o contexto daquele momento vivido pelo Senhor Jesus.


Refiro-me aos versículos 11 e 12, nos quais Ele diz: ...muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes.

Um fundamentalista imediatamente diria: claro, muitos virão e se assentarão à mesa com os patriarcas caso convertam-se a Jesus Cristo. Contudo há uma observação simples para ser feita. O Mestre não diz que muitos virão e se converterão; Ele apenas diz que muitos virão e tomarão lugares.

Mais simples ainda fica essa leitura quando se observa com cuidado a importância do centurião nessa história. Ele é a chave de tudo e a sua fé é o ponto de partida.

É importante lembrar que o centurião não era nem judeu nem discípulo de Jesus, logo não era membro do Judaísmo, muito menos do Cristianismo que ainda nem existia. Possivelmente, aquele centurião, como todo bom e autêntico soldado romano, era adorador de vários deuses e provavelmente do imperador romano. Numa linguagem cristã, ele era pagão, numa linguagem mais coerente, ele era um religioso politeísta.

Há ainda a hipótese de que nem religioso politeísta ele era, mas apenas um homem que de judeu e de seguidor de Jesus não tinha nada.

Uma segunda observação: ele não se torna cristão após a cura de seu criado. O texto nem relata isso, pois se ele tivesse se convertido, certamente estaria relatado. Mas não, ele permanece na condição (a) religiosa em que se encontrava quando foi procurar ao Mestre.

Portanto, o que um texto deste, se lido a olho nu, sem as lentes da religião cristã, sem os óculos da teologia sistemática ortodoxa e sem os pré-conceitos do fundamentalismo, poderá significar a não ser que Jesus Cristo é o Caminho, e a religião, e aqui entra o Cristianismo, também o desvio, e a Graça o meio através do qual Deus salva o ser humano, seja ele alguém que se converterá em algum momento ao Evangelho ou não?

Neste sentido, não dá mais para afirmar que um ser humano que passa a sua vida inteira sem freqüentar uma igreja de crentes irá para o inferno só porque não teve tal experiência. Graças a Deus, em muitos casos, pois há pessoas que quando resolvem freqüentar uma denominação evangélica se tornam loucas, manipuladas, bitoladas, cegas espiritualmente, enganadas, alienadas, bestializadas, e tudo o que for possível entrar nesta lista, menos alguém que de fato conheceu e compreendeu o Evangelho da Graça.

Com isso, quando muitos se convertem às igrejas de crentes, acreditam que estão no Caminho, quando na verdade estão no desvio. Têm uma facilidade enorme para apontar quem vai e quem não vai para o Céu, contudo, não se percebem como pessoas que carecem da Graça de Deus ainda mais, pelo simples fato de serem pessoas que não sabem fazer outra coisa, a não ser julgar o próximo.

Nisto creio e afirmo com todas as letras: Cristo é o Caminho, pois é capaz de salvar e ver fé genuína em um centurião romano, adorador de deuses estranhos, pagão e adorador do imperador, mas o Cristianismo é o desvio, pois consegue maquiar-se com as belezas sublimes do Evangelho, mas vive uma religião semelhante à dos fariseus dos tempos de Jesus, que eram zelosos e ortodoxos no que se refere à obediência ao texto, mas cegos na prática, sobretudo, por julgarem com facilidade, seres humanos que eram tão imperfeitos quanto eles.

Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, pois este pratica as maiores e mais terríveis atrocidades em nome de Deus; Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, pois este ensina as pessoas, a ingênua e inocentemente negociarem com Deus a fim de conseguirem prosperidade financeira, como se Ele tivesse interesse em enriquecer materialmente os seus filhos; Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, pois burra e admiravelmente se tornou a religião que menos entendeu os ensinamentos de seu próprio fundador, se é que Jesus foi o fundador desse negócio; Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, pois consegue levar as pessoas a acreditarem que os não-cristãos irão para o inferno só porque não se tornaram cristãos, como se Deus só pudesse salvar pessoas por meio de experiências religiosas dentro das paredes da religião cristã; Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, pois este em vez de tornar a caminhada cristã uma caminhada de liberdade e descanso, torna-a ainda mais penosa, turbulenta, repleta de regras e cargas a serem carregadas; Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, pois em vez de manter as pessoas que acreditam estarem servindo ao Jesus apresentado nos evangelhos, consegue desviá-las a qualquer outro caminho que não é o Caminho da Graça de Deus em Cristo.

Cristo é o Caminho, o Cristianismo é o desvio, por tantos outros e infindáveis motivos! Cabe agora a criatividade de cada um para continuar nesta reflexão, se é que para enxergar as discrepâncias existentes entre Cristo e o Cristianismo, seja uma tarefa que exija muita criatividade. Penso que não.

fonte : http://www.editorareflexao.com.br/MomentoReflexao.aspx/Detalhe/1



Jefferson Ramalho :

Graduado em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2001 - 2005), licenciando em História pelo Centro Universitário Nossa Senhora da Assunção, Pós-graduando em História pela Pontifícia Universidade Católica de Sao Paulo e formado em Filosofia e Religião pela Faculdade do Mosteiro de São Bento, em São Paulo.

É professor de História da Igreja e História das Religiões na Faculdade de Cultura e Ensino Teológico de Osasco, no Seminário Teológico do Betel Brasileiro e no Instituto Bíblico O Brasil para Cristo. Foi o Relações Públicas da Área Acadêmica da Editora Vida de 2005 a 2008.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Política. Por Rubem Alves



Uma aliança política que jamais aconteceria em outros tempos arrancou das cavernas da minha memória uma piadinha do Reader’s Digest de que me havia esquecido. É assim. Havia, numa cidadezinha dos Estados Unidos, uma Igreja Batista que se gabava do seu rigor no combate às bebidas alcoólicas, sacramentos do Inferno. Havia, nessa mesma cidade, uma cervejaria enorme que fabricava milhares de litros de cerveja e era fonte de empregos, de riqueza, de alegrias e bebedeiras.

Claro que a dita Igreja Batista tinha, como missão, combater a Cervejaria: era a luta do Santo Guerreiro contra o Dragão da Maldade. Aconteceu, entretanto, que por razões inexplicáveis, a Cervejaria fez uma doação de 500.000 dólares à Igreja. O que provocou uma enorme confusão entre os fiéis. “Dinheiro do Demônio“, diziam os mais convictos; “Não pode ser aceito.“ Se fosse uma doação de 100 dólares a decisão seria fácil. Os 100 dólares seriam recusados. Mas 500.000 dólares é quantia difícil de ser recusada. Confesso que eu mesmo estremeceria... Convocou-se, então, uma assembléia para deliberar sobre o assunto. Nas Igrejas Batistas as bases são sempre consultadas antes de se tomar qualquer decisão.

Depois de inflamadas discussões que se prolongaram pela madrugada, finalmente um dos membros da Igreja fez uma proposta que resolveu o conflito e foi aprovada por unanimidade: “A 1ª Igreja Batista da cidade de Beerland resolve aceitar a doação de 500.000 dólares feita pela Cervejaria Drinkjoy na firme convicção de que o Diabo ficará furioso quando souber que o seu dinheiro vai ser usado para a glória de Deus.“ Pois é: todas as alianças são possíveis e aceitáveis desde que se encontrem as palavras explicativas adequadas. Pois quem diria que o Partido Brasileiro do Reino dos Homens iria um dia fazer aliança com o Partido Universal do Reino de Deus? Esses dois partidos representam ideais irreconciliáveis, como os ideais da Igreja Batista e da Cervejaria.

Karl Mannheim é um dos meus sociólogos favoritos. Tinha imaginação. Era inteligente. Não precisava se valer de estatísticas para pensar. (Hoje, nas universidades, a inteligência foi substituída pelas estatísticas. Parece que, no mundo da ciência, só são aceitas as afirmações que forem derivadas de tabelas estatísticas. Já ouvi uma discussão sobre quantas tabelas estatísticas uma tese de mestrado deve ter, para ser aceita...). Pois há mais de 50 anos Mannheim predisse o desaparecimento das utopias, na política. O que são utopias? Utopias são fantasias de uma sociedade melhor que servem para guiar a ação. Minha utopia, por exemplo, tem a forma de um jardim. Contra as utopias há a sentença dos realistas que as recusam sob a alegação de serem irrealizáveis. Mas o Mário Quintana responde:

“Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!”

Mannheim vislumbrou um momento em que, com o abandono das utopias, os políticos passariam a se guiar por interesses pragmáticos de poder, que podem ser ou 500.000 dólares ou 500.000 votos... Quando a gente vê São Jorge e o Dragão estabelecendo alianças é porque eles abandonaram os seus sonhos. O que se tem é um produto híbrido, um São Jorge com rabo de Dragão, ou um Dragão com cara de São Jorge.

O livrinho do Orwell Revolução dos Bichos (Animal Farm, em inglês) fala sobre isso. É sobre uma revolução que os bichos, liderados pelos porcos, fizeram na fazenda para se livrarem do jugo do fazendeiro que os explorava em benefício próprio. Os porcos tinham razões de sobra para serem os líderes da revolução. Eram os animais mais sacrificados. Eram engordados para se transformarem em linguiça, torresmo, toucinho, lombo, leitoa assada, pernil assado... Mas, no decorrer do processo revolucionário importantes transformações aconteceram. Pois, como os próprios porcos diziam, o processo é histórico, dialético, não é rígido, não é linear... E os porcos começaram a ver que o fazendeiro e seus empregados não eram tão ruins assim. Havia interesses comuns que permitiam que eles fizessem proveitosas alianças. A última cena do livrinho é cômica e terrível: a bicharada, do lado de fora, olha através da janela, para dentro da casa do fazendeiro. Lá estava acontecendo uma reunião festiva para celebrar um novo dia político de cooperação entre fazendeiros e porcos. E os bichos, perplexos, olhavam para o fazendeiro, olhavam para os porcos, e não conseguiam saber quem era quem: o fazendeiro tinha focinho de porco e os porcos fumavam charutos como o fazendeiro...





RUBEM ALVES

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A oração no pensamento de Paul Tillich


Autor : Dr. Carlos R. Caldas Filho, professor no Mackenzie.

Introdução


Da (re)descoberta da espiritualidade no debate teológico contemporâneo


No período que se convencionou chamar "moderno", dominado pela epistemologia de corte iluminista, marcado por uma abordagem racionalista e mecanicista à realidade, a academia teológica em geral não tem dado muito valor ao tema da espiritualidade. Tal racionalidade pode ser observada em manuais de teologia sistemática, principalmente no capítulo da teo-ontologia, que demonstram preocupação em apresentar um detalhamento sobre "o ser e os atributos de Deus", a um ponto tal que a dimensão do mistério fica totalmente excluída. O transcendente, a realidade primeira e última, o absoluto, em tais teologias sistemáticas é reduzido a um objeto de estudo, como um elemento químico que pode ser decomposto, ou um material qualquer que pode ser fracionado, dissecado, pesado, medido, contado, examinado em tubo de ensaio de laboratório e visto na lente de um microscópio e ter sua estrutura genética mapeada. Tais construções teológicas não privilegiam a espiritualidade, entendida como "estado de relacionamento profundo com Deus" (Houston in Elwell, 1990, p. 60). Mas é óbvio que a espiritualidade acompanha o cristianismo praticamente desde o berço - haja vista que a forma adjetiva (pneumatikós, "espiritual") aparece em 1 Coríntios 2:13-15; 9:11; 14:1. Não obstante, a história do pensamento cristão mostra como não poucas vezes tem surgido um divórcio entre saber teológico teórico e vivência da fé. Exemplo eloqüente vem do século XV, a clássica obra Imitação de Cristo, que apresenta contundente denúncia contra tal divórcio:

"Que te aproveitas discorrer profundamente sobre a Santíssima Trindade, se não és humilde e, por isso, à Trindade desagradas? Em verdade, as palavras sublimes não fazem o homem santo e justo, é a vida pura que o torna querido de Deus, prefiro sentir compunção a saber-lhe a definição " (Imitação de Cristo, 1970, p. 13),

É óbvio que este trecho da Imitação de Cristo, não obstante ter sido escrito há séculos, aponta para situação típica da modernidade, qual seja, separar fé e reflexão. Neste sentido, a pós-modernidade tem propiciado uma (re)descoberta da espiritualidade. Trata-se sem dúvida, de nota alvissareira. Pois, como apresenta a tradição dominicana, a teologia deve ser theologia mentis et cordis - loqui cum Deo, loqui de Deo (teologia da mente e do coração - falar com Deus, falar sobre Deus).



Do lugar (e do não lugar) da oração em reflexões teológicas modernas .


É inegável que uma das mais tradicionais possibilidades de vivência da espiritualidade é a oração. Apesar disso, é possível perceber que oração tem sido "conteúdo nulo" em algumas teologias sistemáticas produzidas no período da modernidade. Neste sentido, observe-se que a Teologia Sistemática de Louis Berkhof (que se insere em uma tradição reformada conservadora) não trata do tema da oração, nem de qualquer aspecto da espiritualidade clássica. A mesma ausência é notada na Teologia Sistemática de Wayne Grudem (Grudem, 1999). A obra (Introdução à Teologia Sistemática) de Millard J. Erickson (que fora aluno de Wolfhart Pannenberg), teólogo batista também alinhado com uma tradição teológica conservadora, trata do tema da oração apenas tangencialmente, quando apresenta a doutrina da providência (Erickson, 1997, p. 178-179). Curiosamente, a Dogmática Evangélica, de Alfredo Borges Teixeira, talvez a primeira obra do gênero no Brasil, apresenta um breve resumo sobre oração (1976, p. 192-195). Talvez mais curioso ainda seja observar que a Teologia Sistemática de Charles Hodge, representante da "Velha Escola" de Princeton, obra que utiliza como ferramenta auxiliar a filosofia do senso comum, monumental obra com quase 1700 páginas, apresenta 15 páginas a respeito do tema da oração (ou seja, cerca de 0,8% do total). Já nos tempos que se convencionou chamar "pós-modernos", marcados por uma epistemologia não tão racionalista (e nem por isso antiintelectual), lugar, espaço e atenção têm sido dados à espiritualidade. Uma epistemologia que rompe com o racionalismo mecanicista de corte iluminista terá abertura para o subjetivo, o intuitivo, a contemplação, para o mistério, sendo menos preconceituosa quanto à espiritualidade. Mas o tema do presente trabalho não é lugar (ou não lugar) da oração em teologias sistemáticas modernas. Nem é apresentar uma teologia da oração. O que o presente trabalho pretende apresentar considerações sobre oração no pensamento de Paul Tillich (1886-1965) o famoso "teólogo da correlação", indubitavelmente um dos mais destacados teólogos do século XX. Tillich, teólogo que trabalha com uma ferramenta auxiliar de filosofia existencialista, por algumas (poucas) vezes se ocupa do tema da oração. Tal constatação é, sem dúvida, interessante por demais. Tillich, teólogo existencialista, tido na conta de liberal em não poucos círculos teológicos, ocupando-se da oração? Oração foi tema tido por Tillich como importante a ponto de entrar em sua mais conhecida obra? De fato, o tema da oração em Tillich não tem recebido muita atenção da parte de especialistas no corpus tillichiano. Por isso, o presente trabalho parte da hipótese operacional que, para Tillich, a oração é mais importante que alguns dos especialistas em temas tillichianos gostariam de admitir. A seguir, apresentar-se-ão, posto que em síntese, sete (tradicional número da perfeição na simbologia bíblica) pistas para a formulação de uma teologia da oração a partir do referencial teórico tillichiano. O presente trabalho é apresentado com consciência plena de sua limitação. Terá atingido seu objetivo no entanto se conseguir apresentar sugestão para futuras e mais alentadas pesquisas nesta linha. A obra que dá base à presente pesquisa é a que pode ser considerada a magnum opus de Tillich, a saber, sua Systematic Theology (Volume Um - Razão e Revelação, Ser e Deus, e Volume Três - Vida e o Espírito, História e o Reino de Deus), publicada em 1963 pela Editora da Universidade de Chicago . Oração como parte da revelação dependente. Comentando sobre a dinâmica da revelação, Tillich apresenta seu entendimento quanto à diferenciação que faz entre revelação original e revelações dependentes. A revelação original, que Tillich denomina "milagre original", é distinta da revelação dependente, que acontece continuamente na história da igreja. São de Tillich as seguintes palavras: " Uma situação revelatória dependente existe em todo momento em que o Espírito divino possuir, abalar e mover o espírito humano. Toda oração e meditação, se realizam seu sentido, isto é, reunir a criatura com o fundamento criativo, são revelatórias neste sentido. As marcas da revelação: mistério, milagre e êxtase - estão presentes em toda oração verdadeira. Falar a Deus e receber uma resposta formam uma experiência extática e milagrosa; elas transcendem todas as estruturas ordinárias da razão subjetiva e objetiva. É a presença do mistério do ser e uma atualização de nossa preocupação última. Se a oração é trazida ao nível de uma conversa entre dois seres, é blasfema e ridícula. Se, contudo, é entendida como a "elevação do coração", isto é do centro da personalidade de Deus, é um evento revelatório ". (TS, I, 112).


Vê-se portanto, que Tillich tem a oração em alta conta, e praticamente redefine seu significado, elevando-a a um patamar bem mais elevado do que em geral se percebe que a oração é entendida em círculos católico-romanos, pietistas, evangelicais, pentecostais ou neopentecostais.

Paul Tillich e a oração

Oração e providência


No que talvez seja um dos pontos altos de sua teologia sistemática, a saber, sua discussão sobre a realidade de Deus, Tillich fala sobre a providência divina. Neste momento, Tillich discute sobre o significado (e legitimidade) de orações de súplica ou de intercessão, concluindo favoravelmente sobre a oração como exercício de fé capaz de transformar uma determinada situação existencial:

" A criatividade diretiva de Deus responde à pergunta pelo sentido da oração, especialmente das orações de súplica e de intercessão. Nenhum destes tipos de oração pode significar que se espere que Deus interfira nas condições existenciais. Ambas significam que Deus é solicitado a dirigir a situação dada rumo à plenitude. As orações são um elemento nessa situação, e se são orações verdadeiras são também um fator dos mais poderosos. Como um elemento na situação uma oração é uma condição da criatividade diretiva de Deus. Mas a forma desta criatividade pode ser uma rejeição completa do conteúdo manifesto da oração. Contudo, a oração pode ter sido ouvida de acordo com seu conteúdo oculto, que é a entrega de um fragmento da existência de Deus. Este conteúdo oculto é sempre decisivo. É o elemento na situação que é usado pela criatividade diretiva de Deus. Toda oração séria contém poder, não por causa da intensidade do desejo expresso nela, mas por causa da fé que a pessoa tem na atividade diretiva de Deus. Tal fé transforma a situação existencial" . (TS, I, 224)

Tillich reconheceu que esta é sua interpretação básica da oração (ST, III, 191). Tal afirmação só confirma a hipótese de que a oração é para Tillich mais importante que vários de seus estudiosos e comentaristas têm admitido.



Oração como contemplação do mistério


Em sua discussão teontológica, Tillich discute sobre o ser de Deus, e comenta sobre seu entendimento sobre "Senhor" e "Pai" como símbolos de um relacionamento com o divino. Aí, de maneira coerente, Tillich conclui que a oração tem lugar (importante) neste relacionamento:

"Senhor" e "Pai" são os símbolos centrais para a relação eu-tu com Deus. Mas a relação eu-tu, embora seja a relação central e a mais dinâmica, não é a única, pois Deus é o ser-em-si. Em invocações como "Deus Todo poderoso" é sentido o poder irresistível da criatividade de Deus; em "Deus Eterno" é indicado o fundamento imutável de toda vida. Além destes símbolos de invocação, existem símbolos usados na meditação nos quais a relação eu-tu é menos explícita, embora seja sempre implícita. Contemplar o mistério do fundamento divino, considerar a infinitude de sua vida, intuir a maravilha da criatividade divina, adorar o sentido inexaurível da auto-manifestação divina - todas estas experiências estão relacionadas a Deus sem envolverem uma relação eu-tu explícita. Muitas vezes uma oração que começa dirigindo-se a Deus como Senhor ou Pai,termina numa contemplação do mistério do fundamento divino. E, reciprocamente, uma meditação do mistério divino pode terminar numa oração a Deus como Senhor ou Pai ". (TS, I, 241).



Oração como experiência extática


Tillich, ao comentar sobre a "Presença Espiritual" (a rigor, sua pneumatologia), fala bastante sobre o que denomina "experiência extática". Para Tillich, a oração é simplesmente central na experiência extática. Neste ponto de sua reflexão teológica encontram-se as que provavelmente são as mais lúcidas compreensões de Tillich quanto à oração:" O melhor e mais universal exemplo de uma experiência estática é o padrão da oração. Cada oração séria e bem sucedida - que não fala a Deus como a um amigo familiar, como muitas orações fazem - é uma fala a Deus, o que significa que Deus é transformado em um objeto por quem ora. Entretanto, Deus nunca pode ser um objeto, a menos que seja um sujeito ao mesmo tempo. Nós só podemos orar ao Deus que ora a Ele mesmo através de nós. Oração é uma possibilidade somente na medida em que a estrutura sujeito-objeto é superada; por conseguinte, é uma possibilidade estática. Aí reside a grandeza da oração, e o perigo de sua contínua profanização. O termo "estático", que geralmente tem conotações negativas, possa talvez ser entendido de maneira positiva, se entendido como característica essencial da oração". (ST, III, 120, tradução do autor).

A partir desta citação, conclui-se que Tillich com sensibilidade valoriza a oração, pois não a banaliza, pois não a interpreta como sendo mero recurso mágico, a ser empregado com fins meramente utilitaristas, como não raro acontece com literalmente milhões de praticantes e adeptos de expressões tão diversas como muitos segmentos da devocionalidade popular romana e de grupos neopentecostais em atuação no Brasil e no mundo.



Oração como elemento integrante do Novo Ser como processo (santificação)


Tillich, ao falar do impacto da Presença Espiritual no indivíduo, que resulta em um processo de vida "baseado na experiência da regeneração, qualificada pela experiência da justificação, e desenvolvendo como a experiência da santificação" (ST, III, 228), apresenta a oração como constituinte do processo de santificação. Tillich afirma não ver sentido na distinção entre uma devoção formalizada e uma particular (ST, III, 236). Independentemente de acontecer em "formato" formalizado ou extemporâneo, a oração, no entendimento tillichiano, será importante no processo de santificação. Oração como parte do culto: Tillich fala sobre o culto, comunhão da igreja com a Presença Espiritual. Para Tillich, o culto inclui adoração, oração e contemplação. Quanto à oração como elemento do culto, Tillich diz: "O segundo elemento do culto é a oração... A idéia central era que toda oração séria produz algo novo em termos de liberdade criatural que é levado em consideração no conjunto da criatividade diretiva de Deus, como o é cada ato do eu centrado do homem. Essa novidade, criada pela oração de intercessão, é o ato Espiritual do elevar o conteúdo de nossos desejos e esperanças até à Presença Espiritual. Uma oração na qual isso ocorre é "ouvida", mesmo que os acontecimentos subseqüentes venham a contradizer o conteúdo manifesto da oração. O mesmo é válido para as orações de intercessão que não apenas produzem uma nova relação com aqueles por quem a oração é feita, mas também introduzem uma mudança na relação com a ultimacidade dos sujeitos e objetos de intercessão. Portanto, é falso limitar a oração à oração de gratidão. Essa sugestão da escola ritschliana está enraizada numa profunda ansiedade quanto à distorção mágica da oração e suas conseqüências de uma perspectiva sistemática, infundada, embora seja altamente justificável na prática. Ação de graças a Deus é uma expressão de adoração e louvor, mas não um reconhecimento formal que obrigue Deus a oferecer mais benefícios sobre aqueles que são gratos. Contudo, se proibidas, as orações de súplica criariam uma relação com Deus totalmente irreal. Nesse caso a expressão das necessidades do homem a Deus e a acusação de Deus feita pelo homem por não haver respondido (como no livro de Jó) e todas as lutas do espírito humano com o Espírito divino, estariam excluídas da oração. Certamente esses comentários não são a última palavra na vida de oração, mas a "última palavra" seria vazia e profanizada, como o são inúmeras orações, caso fosse esquecido pelas igrejas e seus membros o paradoxo da oração. Paulo expressa o paradoxo da oração de maneira clássica quando fala da impossibilidade da oração verdadeira e sobre o Espírito divino que representa diante de Deus aqueles que oram, sem uma "linguagem objetivante" (Romanos 8,26). É o Espírito quem fala ao Espírito, assim como é o Espírito quem discerne e experiencia o Espírito. Em todos esses casos, o esquema sujeito-objeto do "falar a alguém" é transcendido: aquele que fala através de nós é aquele a quem é dirigida a fala". (TS, III, 531).

Nesta longa citação, Tillich ressalta a importância da vida comunitária da comunidade de fé que responde à Presença Espiritual por meio do culto e da oração.



Oração e seu aspecto peticionário


Tillich também apresenta seu teologizar sobre o aspecto mais óbvio da oração, que é da súplica, da petição. É curioso que Tillich faça menção de "curadores pela fé" (faith healers) em sua obra. Não se pode esquecer que a Teologia Sistemática de Tillich foi produzida em sua fase nos Estados Unidos, onde a presença e a atuação de "curadores pela fé" é fenômeno comum há décadas, mas algo inexistente na Alemanha, terra natal de Tillich. Portanto, ele inclui em seu pensar sistematizado uma reflexão sobre o aspecto peticionário e intercessório da oração. Talvez seja razoável admitir que, tivesse Tillich permanecido toda sua vida na Alemanha, não teria incluído em sua teologia as reflexões que fez sobre aspecto tão importante da oração. No trecho que talvez seja um dos menos existencializados de sua reflexão, Tillich afirma:" Já que orações e intercessões pela saúde pertencem à relação normal entre o homem e Deus, é difícil traçar uma linha divisória entre oração determinada pelo Espírito e oração mágica. Falando em termos gerais, podemos dizer que a oração determinada pelo Espírito busca levar nosso próprio centro pessoal, inclusive nossa solicitude para com nossa própria saúde ou de outrem, diante de Deus, e que ela está pronta a aceitar a aceitação divina da oração, mesmo que o conteúdo dessa oração seja atendido ou não. E, reciprocamente, uma oração que é apenas uma concentração mágica no alvo desejado, usando Deus para sua realização, não aceita uma oração não atendia como oração aceita, pois o alvo último no poder mágico não é Deus e a união com ele, mas o objeto da oração, por exemplo, a saúde. Uma oração por saúde, na fé, não é uma tentativa de cura pela fé, mas uma expressão do estado de ser possuído pela Presença Espiritual " (TS, III, 598).

Assim, Tillich comenta sobre algo que, por mais inusitado que pareça, o coloca próximo da realidade brasileira, onde a oração tantas vezes é reduzida a busca de algo que se deseja ou se necessita, mas nem sempre e não necessariamente na comunhão com Deus.



Conclusão


Há alguns anos, o que era então o mais famoso e conhecido pregador evangélico brasileiro, em uma de suas eloqüentes mensagens, falando exatamente sobre o tema da oração, atribuiu a Paul Tillich uma declaração na qual o teólogo alemão supostamente teria dito que em sua vida não havia mais necessidade de oração. O pregador então, com uma verve invejável aplicava a ilustração dizendo: "teologia que não desemboca em oração não é teologia...".

Um breve exame na Teologia Sistemática de Tillich mostra que ele concordaria com esta declaração do pregador brasileiro. Mas o pregador faria bem se tivesse se dado ao trabalho de pesquisar o que Tillich realmente disse a respeito da oração.

Que o presente trabalho, apesar de toda sua limitação, possa motivar pesquisas sobre este, e outros aspectos da espiritualidade presentes no pensamento de Tillich.

Carlos Caldas

Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo
Pós-Graduação em Ciências da Religião




Universidade Metodista de São Paulo

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Metodistas criticam ação da PM no Rio de Janeiro


UMA CARTA DE ORIENTAÇÃO E REPÚDIO DA JUVENTUDE DA PASTORAL DE COMBATE AO RACISMO DA 1° REGIÃO ECLESIÁSTICA DA IGREJA METODISTA DO BRASIL - SOBRE AS POLÍTICAS DE MORTE DO GOVERNADOR SERGIO CABRAL .


Prezados Revdssimos, Revds,Revdssimas, Revdas, Leigos/as, Irmãos e Irmãs em Cristo;


A Juventude da Pastoral de Combate ao Racismo vem se manifestar, contra o projeto de Morte do Governo Sergio . Acreditamos que diferente da onda que a REDE GLOBO , A SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA do GOVERNO ESTADUAL-RJ, tenta fazer a população acreditar, onde o bem (Secretaria de Segurança Pública) e o Mal (traficantes) estão duelando em nosso estado, as coisas não acontecem dessa forma.


O que está por trás desses conflitos urbanos é uma reconfiguração da geopolítica do crime na cidade. Isso já vem se dando há algum tempo e culminou na situação que estamos vivendo atualmente. Não está em jogo a destruição da estrutura do crime, ela está se rearranjando apenas. O bem é a segurança pública e a polícia do Rio de Janeiro , e o mal são os traficantes que estão sendo combatidos. Na verdade, isso é uma falácia. Não existe essa realidade. O que existe é essa reorganização da estrutura do crime.


A realidade do RJ exige hoje uma análise muito profunda e complexa e não essa espetacularização midiática, que tem um objetivo: escorraçar um segmento do crime organizado e favorecer a constelação de outra composição hegemônica do crime no RJ.


O mais drástico é que quem vai morrer nesse confronto é a população civil e inocente, que não tem acesso à comunicação, saúde, luz… Há todo um drama social que essa população vai ser submetida de forma injusta, arbitrária, ignorante, estúpida, meramente voltada aos interesses midiáticos, de venda de imagens e para os interesses de um projeto de política de segurança pública que ressalta a execução sumária. No Rio de Janeiro a execução sumária foi elevada à categoria de política pública pelo atual governo.


É uma política midiática de visibilidade de segurança no Rio de Janeiro e Brasil. A presidente eleita quase transformou as UPPs na política de segurança pública do país e quer reproduzir as UPPs em todo o Brasil. A UPP é uma grande farsa. Nas favelas ocupadas pelas UPPs podem ser encontrados ex-traficantes que continuam operando, mas com menos intensidade. A desigualdade social permanece, assim como o não acesso à saúde, educação, propriedade da terra, transporte. A polícia está lá para garantir o não tiroteio, mas isso não garante a não existência de crimes. Ao nosso ver, até agora, as UPPs são apenas formas de fachada de uma política de segurança e econômica de grupos de capitais dominantes na cidade para estabelecer um novo projeto e reconfiguração dessa estrutura.


Por isso acreditamos no poder restaurador da Igreja de Cristo, chamada nesse século e nesses dias para fazer a diferença, operar no meio do povo oprimido a transformação social, espiritual, econômica, política e cultural de um povo que está sofrendo e esse povo é negro e pobre, estamos vivendo esses dias terríveis, e a juventude da Pastoral de Combate ao Racismo da 1ª Região Eclesiástica manifesta atráves dessa carta sentimentos de compaixão, estaremos em oração pelo nosso povo, mas é certo que estaremos em ação, antes de tudo buscando a libertação do nosso povo, pois acreditamos que fomos chamados para uma missão em nossos dias, assim como Moisés e outros foram chamados naqueles dias para cumprir a missão de Deus nessa terra.

Na resistência a tod@s!


Um Afroabraço!!


Dayse Gomis e Cyro Garcia


Juventude da Pastoral de Combate ao Racismo


Igreja Metodista - 1ª Região Eclesiástica




quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Teólogo sugere que evangélicos deixem homossexuais em paz



O teólogo presbiteriano Juan Stam, hoje vivendo na Costa Rica, propôs às igrejas evangélicas uma moratória, de cinco anos, para que elas analisem com calma o assunto da homossexualidade, deixem os homossexuais em paz e se fixem em outros temas mais importantes e evangélicos.

Pautada pelas alas conservadoras da Igreja Católica e denominações evangélicas, a homossexualidade entrou com força nos debates durante campanha à presidência da República deste ano. O tema ficou bem demarcado pelas balizas da moralidade, amparado por versículos bíblicos.

Faria muito bem para nós recordar que as mesmas passagens bíblicas denunciam a avareza – os avarentos não entrarão no Reino de Deus. “O Novo Testamento diz muito mais contra a avareza e a cobiça do que contra a homossexualidade”, destaca Stam.

A guerra homofóbica está causando dano à igreja, sustenta o teólogo. Evangélicos parecem estar presos a uma obsessão pelos temas sexuais, “como se fossem os únicos problemas críticos de nosso tempo e como se deles dependesse o futuro da igreja e da civilização.”

Esse tema domina, de modo a cansar, o discurso de políticos protestantes. Ele indaga, por exemplo, por que igrejas evangélicas e católica não se uniram para organizar marchas contra as guerras do Iraque e do Afeganistão? Ou em protesto contra o golpe de Estado em Honduras e, agora, contra o regime repressivo do seu governo?

Por isso, as igrejas evangélicas “carecem de autoridade moral para que suas campanhas anti-homossexuais sejam convincentes”, afirma, agregando: “Suas arengas contra a homossexualidade caem no ridículo ante os setores pensantes e críticos da população e, às vezes, cheiram a oportunismo e hipocrisia”.

O evangelho, lembra o teólogo, não vive da negação, mas das boas novas. Na América Latina, evangélicos têm se destacado por serem anti: anticatolicismo, anticomunismo, antiecumenismo e agora anti-homossexualidade. “O evangelho é o ‘sim’ e o ‘amém’ de Deus; quando o negativo domina a Igreja, ela está doente”, sustenta.

O viés religioso sobre o homossexualismo, que apareceu na campanha política, deixou de lado dados preocupantes e assustadores para quem defende o valor último da vida. De 1980 a 2009, o Grupo Gay da Bahia contabilizou 3.196 assassinatos de homossexuais no Brasil, uma média de 110 por ano.

O Paraná é o Estado mais homofóbico do país, ao lado da Bahia, e seguido por São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais e Alagoas. No ano passado, foram mortos 15 travestis, oito gays e duas lésbicas no Paraná. Entre travestis e transsexuais, 70% já sofreram algum tipo de violência naquele Estado.

O ex-presidente do Grupo Gay da Bahia, o antropólogo Luiz Mott, frisa que a maioria dos crimes contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transsexuais (LGBT) é motivada por “homofobia cultural”.

A comunidade LGBT luta pela aprovação do projeto de lei, em tramitação no Congresso nacional, que criminaliza a homofobia. O presidente da Associação Brasiléia de LGTB, Toni Reis, destaca que o maior empecilho para a aprovação da lei é a oposição de grupos religiosos conservadores.

Ele afirma, contudo, que a reivindicação da comunidade LGBT não é o casamento religioso, mas a união civil. Reis menciona, em matéria no Brasil de Fato, que 53 países têm legislação específica contra a homofobia, dentre eles o Uruguai, a Argentina, a Colômbia e o México.





Fonte : Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)

Quem são vocês ?


Um breve recado. Gostaria de conhecer um pouco sobre vocês, leitoras e leitores. No lado direto do blog há uma pesquisa com o seguinte título: VOCÊ SE CONSIDERA.....

Logo abaixo, coloquei várias opções religiosas, assim como não me esqueci do ateísmo e do agnosticismo.


Por favor, respondam.
Abraços

Jesus: mitológico ou histórico? Sobretudo, literário



Apesar de não ter deixado nenhum documento escrito de próprio punho – assim como Sócrates – Jesus Cristo não tem sua existência questionada – diferente do que acontece com o filósofo grego. Trata-se de uma das figuras históricas sobre as quais mais documentos se tem na literatura – seja ela “oficial” ou de ficção. Pelo critério da múltipla confirmação, a partir do relato de sua vida feito por diferentes autores que nunca se viram, ele de fato existiu. Por um lado, é tido como um revolucionário histórico assassinado por se auto-proclamar o Rei dos Judeus dentro dos domínios de um ainda poderoso Império Romano. Por outro, é um semi-deus mitológico cujas glórias foram cantadas por legiões de admiradores, tal como o Ulisses das epopéias gregas. Seja de ficção ou não, literatura sobre ele é o que não falta.

De acordo com a historiadora Eliane Moura Silva, da Unicamp, os fatos da vida de Cristo são relatados de passagem em alguns textos antigos, como a Vida dos Judeus, de Flávio Josefo, que viveu entre os anos 37 d.C. e 103 d.C., porém de forma pontual e não muito extensiva. Segundo ela, há estudos que revelam ser verdadeiras muitas das referências históricas contidas nos Evangelhos do Novo Testamento, que tratam da vida de Cristo, mas que também foram escritos posteriormente. “Trata-se de período conhecido da história do Império Romano, embora a Judéia [onde Jesus viveu] não fosse a principal preocupação nem a província romana mais importante na época”, afirma.

Uma dessas referências históricas é o reinado de Herodes Antibas, durante o qual Jesus nasceu. Como esse reinado acabou quatro anos antes do marco zero do calendário cristão os pesquisadores são praticamente unânimes em afirmar que o nascimento de Jesus se deu, na verdade, entre os anos 6 a.C. e 7 a.C.. Outra unanimidade é que nenhum pesquisador, atualmente, atribui ao Santo Sudário valor histórico para provar a existência de Jesus. Uma pesquisa iniciada pelo brasileiro Carlos Chagas Filho, que foi Decano da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, datou o tecido tido como Santo Sudário como sendo do século VII, não podendo ter sido usado para cobrir o rosto de Cristo em sua crucificação.

Luis Carlos Susin, da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul (RS), também menciona os textos literários como os principais documentos históricos de que os pesquisadores dispõem para o estudo do período em que Cristo viveu. Segundo ele, através do encadeamento de uma literatura secundária – sobre os relatos bíblicos – e estudos de evolução histórica das línguas nas quais foram escritos o Antigo Testamento (hebraico) e o Novo Testamento (grego), é possível ter bases científicas para os fatos em torno de Jesus narrados na Bíblia.“A arqueologia ajuda na confirmação e na contextualização, mas permanece muda, sem documentos literários”, acredita Susin.

Israel Finkelstein, diretor do Instituto de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv, em Israel, diz que sua área de pesquisa é a única que fornece dados novos em relação ao que já se conhece sobre os fatos relatados na Bíblia. Uma das recentes descobertas arqueológicas foram as ruínas de um antigo local de peregrinação religiosa, cuja datação indicou que ele teria sido construído por volta do século III d.C. Essas ruínas estavam nas margens do rio Jordão, onde Jesus teria sido batizado por João Batista, segundo o relato bíblico. Outros achados arqueológicos são os restos de um barco e de uma casa que teria sido de um dos discípulos de Jesus, em Cafarnaum, uma aldeia de pescadores onde ele começou a pregar.

O historiador André Chevitarese, do Laboratório de História Antiga da UFRJ e do Núcleo de Estudos Estratégicos, da Unicamp, explica que existem dois tipos de pesquisa arqueológica relacionada a fatos bíblicos. Uma é fundada nas religiões judaico-cristãs, com viés religioso, tentando provar a veracidade da Bíblia, e político, tentando provar que as terras da região de Israel sempre pertenceram aos judeus. A outra vertente parte de relatos como os do Velho Testamento para procurar, por exemplo, restos arqueológicos materiais em regiões descritas pelo texto bíblico, sem uma finalidade prévia de comprovar ou refutar a Bíblia.

Parece existir uma contradição entre a narrativa dos Livros dos Reis, que fala de Salomão, e o que foi encontrado pelos arqueólogos”, exemplifica Chevitarese. Segundo ele, não havia nenhum vestígio de construções suntuosas datadas do século X a.C., época em que teria reinado Salomão. “As grandes construções que os relatos bíblicos atribuem ao período fazem parte de um discurso ideológico para valorizar Salomão em relação a outros reis. Isso significa que devemos ter cautela sobre a literatura da época”, avalia.

Outro achado importante, que mobilizou arqueólogos, historiadores, filólogos e cientistas da religião, foram os pergaminhos encontrados em vasos de cerâmica nas cavernas de Qumram, próximas ao Mar Morto. Esse material, que pôde ser visto no Brasil em exposições no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, e na Pinacoteca de São Paulo, inclui pedaços de manuscritos originais de textos do Velho Testamento – correspondente à Torá judaica – e textos de reflexão dos essênios, que explicam por que essa comunidade de judeus foi para o deserto viver segundo suas tradições: eles haviam brigado com os sacerdotes do Templo de Jerusalém, que segundo eles, haviam violentado as leis da Torá. Apesar de nada informarem sobre Jesus ou o cristianismo, esses documentos revelam que um judeu celibatário, como Cristo, não era tão incomum assim naquele período.

Para o arqueólogo israelense, os relatos do Antigo Testamento – que narram desde a criação do homem até a longa travessia dos judeus pelo deserto antes de sua chegada à terra prometida de Canaã – são uma mera coleção de mitos e epopéias literárias criados a partir do século VII a.C. E o teólogo James Veitch, diretor do Programa de Estudos Religiosos da Victoria University of Wellington, na Nova Zelândia, diz o mesmo inclusive a respeito dos Evangelhos do Novo Testamento que, segundo ele, seriam histórias orais, em sua origem, nas quais as figuras centrais são seres sobre-humanos ou divinos – como as epopéias gregas que deram origem à literatura ocidental.

“O testemunho transmitido por tradição oral nos primeiros séculos têm um peso decisivo, que não pode ser descartado”, pondera Susin, da PUC-RS. Mas Veitch, em The birth of Jesus: history or myth, afirma que Jesus foi basicamente um bom judeu que fez o melhor de si para apresentar Deus a seus contemporâneos, e teria sido Saulo de Tarso – que ficou conhecido posteriormente como Paulo – o responsável pela disseminação do cristianismo e pela divinização de Jesus. “Foi o grupo que catequizou Paulo que colocou a ressurreição como elemento central da cristandade de Jesus. E Paulo, um judeu helenizado, que falava grego e vivia em cidades, soube dialogar com outras culturas não judaicas, disseminando o cristianismo”, confirma Chevitarese.

A literatura de ficção, a exemplo de alguns teólogos e historiadores, também explora um lado mais humano e menos divino de Jesus. Entre os vários exemplos, estão O evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago, e A última tentação de Cristo, de Nikos Kazantzakis, este último adaptado para o cinema por Martin Scorsese. Ambos exploram uma relação amorosa que Cristo teria tido com Maria Madalena e que não aparece nos Evangelhos. No recente best-seller O código Da Vinci, de Dan Brown, a protagonista Sophie, neta do diretor do Museu do Louvre, em Paris, descobre ao final da trama, ser uma descendente direta da linhagem iniciada na relação entre Jesus e Madalena.

Sobre essa suposta relação, a historiadora da Unicamp Eliane Moura Silva observa que há muita coisa escrita no gênero romance. Os autores vão desde grupos que repensam esta questão como uma tradição paralela que a Igreja nega ou esconde, para justificar o celibato dos padres, até grupos feministas que querem rever a questão do celibato e da ordenação feminina. “Alguns autores, como Saramago, buscam, nessa relação sensual e amorosa, recuperar o Cristo humano submetido ao comum que é a marca da vida de homens e mulheres. Não há muito que comprove nada disso do ponto de vista de documentação de ‘época’”, diz.

Para Susin, pesquisador da PUC-RS, a leitura preconceituosa da história da cristandade pintando Madalena como uma mulher pecadora não condiz com os textos dos Evangelhos, nos quais ela aparece como uma discípula proeminente. “Mas disso passar a ser a relação íntima de Jesus, é tocar na imaginação, no desejo e na inquietação, o que é uma sacada de mercado”, diz Susin. “O autor consegue incluir um elemento deixado à sombra numa cultura patriarcal: a mulher, a sexualidade no coração da espiritualidade, a relação de gênero”, completa.

Se os historiadores e arqueólogos não podem dizer nada a respeito do grau de intimidade na relação entre Madalena e Jesus, é possível pelo menos fornecer pistas sobre o homem que ele foi. Chevitarese menciona escavações arqueológicas que encontraram restos de um teatro grego datado de 20 d.C. em uma cidade a 6 km de Nazareth, onde Jesus nasceu, chamada Séforis, na qual ele provavelmente trabalhou na mesma profissão de seu pai, como carpinteiro. O pesquisador da UFRJ lembra uma palavra muito usada por Jesus – hipócrita, que em grego significa “ator de teatro” ou “aquele que usa máscara” – para levantar a hipótese de que ele não era um matuto, mas um homem urbano que teve contato com a cultura helênica em Séforis, próxima à sua cidade natal. Mais um aspecto que, de certa forma, permite relacioná-lo com o Ulisses das epopéias literárias.

Fonte : Portal ComCiência

http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:XdxL_NSe15EJ:www.comciencia.br/reportagens/2005/05/04.shtml+andre+chevitarese&cd=7&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

domingo, 5 de dezembro de 2010

Jesus, Zeitgeist e o mito de Hórus


Tentei publicar, da forma convencional, um vídeo bem interessante onde Chris Forbes, historiador australiano responsável pelo Departamento de História Antiga da Macquarie University, contesta algumas bobeiras ditas a respeito de Jesus Cristo em alguns filmes bastante populares, mas também completamente fantasiosos, como o famoso Zeitgeist .Dentre as inúmeras besteiras conspiratórias defendidas na película virtual, existe a tese de que Jesus Cristo seria um mito meramente copiado, e devidamente adaptado, da antiga mitologia egípcia de Hórus,considerado o deus-céu.
Como sou completamente burro em assuntos blogueiros, nem sei se estou fazendo de maneira correta. Só sei que o simples processamento deste vídeo está demorando algo em torno de quatro horas ! Como tenho mais o que fazer, estou colando, abaixo, o link do referido vídeo no youtube. É bem rápido, dura em torno de seis minutos. No entanto, é bastante esclarecedor.

Assistam !

http://www.youtube.com/watch?v=wfhPhmpki1k&feature=related




PS : Desabafo. Saudade da minha defesa de tese no Mackenzie. Jamais pensei que uma simples análise no presbitério seria tão " punk " como foi ontem. Detalhe; ainda não acabou ! No próximo sábado ainda tem mais tortura..rss :(