sábado, 12 de junho de 2010

Resenha : Jesus- David Flusser


A editora paulista Perspectiva tem como característica a publicação de títulos de altíssima qualidade acadêmica. Tenho alguns de seus livros ligados à área da História Geral. Um belo dia, em um dos meus intermináveis passeios por uma grande livraria da capital paulista, deparei-me com uma obra publicada por este selo que me chamou atenção; Jesus, de autoria do historiador David Flusser.

Como simples cristão e estudante de teologia, obviamente tal tipo de obra chamaria minha atenção de qualquer forma. Após passar alguns minutos, na verdade, quase uma hora folhando com máxima atenção seu conteúdo, tive a certeza de ter em minhas mãos um daqueles ilustres clássicos desconhecidos do grande público. Uma pena, pois a leitura da obra de Flusser é fundamental para uma real compreensão a respeito do Jesus Histórico.

A própria origem do autor, aliada às suas gritantes credenciais acadêmicas, torna este pequeno manual cientificamente confiável, já que não comporta uma orientação apologética tão comum em determinados autores cristãos. Flusser, judeu praticante natural da Áustria, foi um historiador de formação, sendo professor por um longo período na importante Universidade Hebraica de Jerusalém. Nesta instituição, foi responsável pelo Departamento de Religiões comparadas. Poliglota, afinal não é qualquer pessoa que tem o conhecimento de 26 idiomas, dominando fluentemente nove, traduziu para o grego parcela significativa dos Manuscritos do Mar Morto. Em 1980 foi agraciado com o importante Prêmio Israel em reconhecimento de seus serviços em prol da historiografia judaica.

Em Jesus, Flusser defende a tese de que uma exegese cuidadosa nos três primeiros evangelhos, denominados sinóticos, revelará não o Jesus messiânico ensinado pela tradição cristã, mas sim o Jesus judeu, que usava seu profetismo como uma forma radical de reforma na religião de Israel. Para Flusser, Jesus foi um judeu completamente comprometido com sua origem, não podendo ser encontrado no mesmo nenhum traço de ruptura.

Outra questão bastante interessante encontrada na obra, é a defesa da relevância dos evangelhos na composição da real imagem do Jesus Histórico. Para David Flusser, a despeito dos mitos existentes nos relatos evangélicos e da função proclamativa da mensagem cristã por parte da igreja, após uma leitura crítica é possível encontrar traços confiáveis do Jesus Histórico nestes textos sagrados. Em suma,mesmo não sendo relatos historiográficos de acordo com a moderna concepção do termo, os evangelhos trazem à tona muito do verdadeiro Jesus.

Sobre estas questões, vejamos o que o próprio Flusser tem a dizer;


Os primeiros registros cristãos sobre Jesus não são tão indignos de crédito como se costuma acreditar atualmente. Os três primeiros Evangelhos apresentam um retrato razoavelmente fiel de Jesus como um judeu típico de sua época, e também preservam consistentemente seu modo de falar sobre o Salvador na terceira pessoa. ( Jesus,pg 3)

ou;

A tradução grega de antigas fontes hebraicas foi utilizada por nossos três evangelistas. Assim, quando estudamos à luz de seu pano de fundo judaico, os Evangelhos Sinóticos preservam um quadro de Jesus que é mais confiável do que em geral se admite.

Por mais que tenhamos divergências com algumas premissas defendidas por Flusser, é impossível que qualquer pessoa interessada em conhecer um pouco mais a respeito da vida e obra de Jesus não devore este livro. Apesar de ser uma obra acadêmica,sua linguagem é de fácil compreensão, fazendo da leitura um exercício prazeiroso .

ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA

TÍTULO : JESUS
AUTOR : DAVID FLUSSER
EDITORA : PERSPECTIVA
PÁGINAS : 264

Um comentário:

  1. Acho que também vão nessa linha os outros livros que existem sobre o tema. De autores como Geza Vermes.

    Também é consenso que o evangelho de João é muito tardio em relação aos outros três, e é já imbuído de filosofia grega e de teologia.

    É praticamente a única base para a historinha da divindade de Jesus, coisa que todos os historiadores dão como construção bem posterior ao tempo dos apóstolos, e mesmo de Paulo.

    Tô vendo que este teu blog vai ser uma desgraça - vai aumentar minha lista de leituras, como se já não fosse impossível dar conta...

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