Ao contrário do senso comum de boa parte do povo brasileiro, o batismo infantil, também conhecido como pedobatismo, não é uma prática sacramental restrita ao catolicismo-romano ou a ortodoxia oriental. Grandes famílias confessionais, que se encontram dentro do universo protestante, mantiveram a aplicação deste sacramento aos infantes.
Luteranos, anglicanos, presbiterianos ou reformados (para os leigos, estes dois termos são sinônimos) e metodistas, são os grupos que, historicamente, administram o batismo infantil.
Esta prática é refutada por batistas e pentecostais, sendo motivo, infelizmente, de muita polêmica e desavença no mundo evangélico. Pelo fato de batistas e pentecostais formarem a maioria do segmento protestante brasileiro, dá-se a impressão de que esta forma de batismo seja estranha ao protestantismo.
A intenção deste post não é contar a história do batismo infantil, muito menos fazer a defesa de sua prática. Polemizar sobre esta questão vai contra a proposta ecumênica deste espaço, além de ser contra minha própria personalidade.
Apenas gostaria de mostrar a opinião de Paul Tillich a respeito do assunto. Na minha modesta opinião, Tillich foi um dos maiores pensadores cristãos de toda história. Teólogo e pastor luterano foi, também, filósofo de primeira linha. O mais interessante nesta questão referente ao pedobatismo, é que Tillich, costumeiramente detonado por cristãos fundamentalistas e mesmo conservadores, se aproxima, e muito, da concepção defendida pelos reformadores magistrais.
Em “História do Pensamento Cristão”, faz uma brilhante defesa histórica e sistemática do batismo infantil;
Lutero e toda a Reforma, incluindo Zwínglio, acentuaram o batismo infantil como símbolo da graça proveniente de Deus, significando que ela não depende de nossa reação subjetiva. Lutero e Calvino acreditavam que o batismo era um milagre divino. O importante é que Deus inicia a ação, coisa que pode muito bem acontecer antes de qualquer responso humano. O tempo que vai do evento do batismo até o momento indefinido da maturidade não tem a menor importância diante de Deus. O batismo é a oferta divina do perdão a que a pessoa deve retornar. O batismo de adultos, por outro lado, acentua a participação subjetiva com a capacidade do homem maduro para a decisão. (pág.240)
Quanta ortodoxia luterana, ou reformada, saída da pena do “liberal” Paul Tillich, não? Agora, com a palavra os fundamentalistas oriundos de denominações pedobatistas que adoram malhar o cara!
ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA
Não acho que o Tillich esteja sendo ortodoxo. Ele está analisando um pensamento histórico, que não necessariamente é o dele. Não digo sobre forma de batismo, mas sobre a questão de fundo, de um "Deus que age".
ResponderExcluirReformada e presbiteriana não são sinônimos não: existem reformadas congregacionais e episcopais também. Reformadas seria sinônimo de grupos derivados do zwinglio-calvinismo.
Considero que o pietismo e suas derivações avivalistas, de onde vêm a ansia pelo batismo adulto e até mesmo o rebatismo, como símbolos de um conversionismo, são severas distorções do Evangelho e da mensagem das Escrituras.
Que nenhum batista me escute, senão vou ser apedrejado...
(P.S. - libera comentário com nome/URL, que é melhor)
André, bom dia.
ResponderExcluirA respeito do termo reformado não ser, obrigatoriamente, sinônimo de presbiteriano, você está certo. Apenas generalazei pelo fato de 80% dos reformados espalhados pelo mundo optarem pela eclesiologia presbiteriana. O número de congregacionais é bastante reduzido, e, episcopais claramente reformados, pelo que sei, encontramos apenas na Hungria. Obviamente, há uma forte influência do pensamento zwingliano-calvinista entre anglicanos e batistas, no entanto, devido suas particularidades, estes dois grupos formam familias independentes.
Sobre Tillich, boas colocações.
O protestantismo precisa resgatar uma concepção mais sacramental de Igreja... seria uma solução simples e ortodoxa para quase todos os males que nos afligem hoje.
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