segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Lady Gaga. Arte Massificada e militância parcial






Creio que todo mundo ficou chocado com o modelo de péssimo gosto trajado pela cantora norte-americana Lady Gaga por ocasião da última premiação do VMA. Visando causar polêmica ou levantar a bandeira de uma causa nobre que comentarei no transcorrer do texto, Gaga apareceu inteiramente vestida de carne. Organizações que militam em prol dos direitos dos animais criticaram de forma veemente a suposta nova diva da música pop mundial.


Acho que já deu para sentir que não sou nem um pouco fã da senhorita Lady Gaga. Sei que gosto não se discute, muitas vezes apenas se lamenta, mas gostaria de fazer duas críticas sobre a moçoila. De antemão, peço desculpas ao pessoal que lê ou segue este blog e aprecia a cantora. Rogo que não me abandonem.


Musicalmente, Lady Gaga não apresenta absolutamente nada de novo. Na minha modesta opinião, é uma mistura de Madonna com Britney Spears com algumas pitadas de dance, pop e outros gêneros altamente comerciais. Como o pessoal hoje em dia consome qualquer tipo de melodia que grude facilmente na memória, a mulher tornou-se um verdadeiro estouro na parada. Eu mesmo já me deparei, involuntariamente, cantando a tal Bad Romance. Até a patroa em casa estranhou! Não bastando à melodia bem pastelão, o marketing em cima de Lady Gaga é absolutamente monstruoso! Se você ligar seu aparelho de TV na MTV, lá estará Gaga. Se você sintonizar seu rádio em uma emissora insuportável como uma Jovem Pan de São Paulo, vai escutar, no mínimo, umas três canções da loira em menos de duas horas!


Fora o apadrinhamento absurdo por parte da mídia, o visual, supostamente rebelde, garante uma postura pseudo-punk, quase anárquica, dando ares de grande contestadora para a nova explosão pop mundial. Assim, o circo está inteiramente montado! Temos mais um novo exemplo do que a famosa indústria cultural, tão sabiamente analisada pelo filósofo alemão Theodor Adorno, um dos grandes figurões da fantástica Escola de Frankfurt, é capaz de construir. Enquadro o “estilo Lady Gaga” de se fazer arte como a confirmação do que Adorno escreveu tempos atrás, afirmando que " a apoteose do tipo médio pertence ao culto daquilo que é barato”.


Não me interpretem mal. Não quero passar uma postura elitista a respeito das artes. Uma expressão artística para ser boa não precisa ser trabalhada, complexa, mas deve ser feita, primeiramente, com coração, vontade, não visando exclusivamente o lucro. Eu, por exemplo, gosto de Ramones, um grupo que nunca primou por uma técnica musical apurada, mas sua música tinha realmente postura, não tendo como finalidade primordial a fama e a grana. Não vejo tais ingredientes em Lady Gaga.
Após comentar sobre o lado artístico da nova queridinha do pop, tentarei abordar um pouco sua postura altamente incoerente como militante social.


Lady Gaga assume-se como defensora intransigente da causa gay. Legal. Eu mesmo, heterossexual ortodoxo, cristão protestante, estudante de teologia e mackenzista defendo os direitos da comunidade GLBTT. Até mesmo já escrevi sobre esse assunto no blog.
Todo cidadão, independentemente de sua orientação sexual, deve ter seus direitos resguardos pelo estado. Portanto, a união civil entre casais homoafetivos, fator básico para que tais direitos sejam realmente exercidos, é fundamental em um estado verdadeiramente justo.
No entanto, caso minha militância ficasse restrita apenas a tal ponto, acredito que seria incompleta. Portanto, além da causa GLBTT, a situação do negro, do mestiço, do indígena, da mulher, do pobre, do sem-teto, do sem-terra, dos animais e da natureza deve fazer parte de minha agenda como cidadão socialmente responsável.


Não acredito em militância em uma causa exclusiva. Martin Luther King, pastor batista estadunidense e líder da comunidade negra de seu país, forneceu um exemplo histórico de uma militância social realmente plural sem deixar de lado seu foco inicial. Iniciando sua vida como militante em prol da causa negra, Luther King conscientizou-se de que a opressão vivida pelo negro estadunidense era fruto de um contexto social muito mais abrangente. Ciente de tal realidade alargou sua atuação como contestador social. Começou a defender o direito dos operários brancos oprimidos por seus patrões e, radicalizando ainda mais seu discurso, passou a condenar o próprio sistema capitalista vigente nos EUA e a participação de seu país na nefasta Guerra do Vietnã.
Em cima das ponderações feitas acima, pergunto; qual a opinião de Lady Gaga a respeito de temas como: aquecimento global, ecologia, defesa dos animais, fome no mundo, pobreza, imperialismo norte-americano, consumismo, guerras e etc? Posso estar pecando pela ignorância, mas nunca tomei ciência de qualquer pronunciamento da cantora sobre essas questões tão importantes.


A defesa dos direitos dos homossexuais por parte de Lady Gaga é louvável. A cantora apenas peca pelo fato de limitar sua exposição na grande mídia defendendo um tipo de causa. Parece que todos os outros graves problemas mundiais simplesmente não existem.


Em nossos dias, a atuação de Angelina Jolie deveria servir de exemplo para Lady Gaga. Bissexual assumida, Jolie nunca ficou restrita a defesa de seu próprio grupo, mas alargou sua forma de atuação chegando a ser nomeada Embaixadora da Boa Vontade do Alto Comissionado das Nações Unidas (ONU). Vemos na agenda social de Jolie um verdadeiro amálgama de frentes sociais: defesa do direito dos homossexuais nos EUA, engajamento contra a fome no mundo, luta em prol dos refugiados de guerra e etc.


Angelina Jolie, está aí um bom exemplo a ser seguido por Lady Gaga. Será que ela consegue?



































POR : ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA

5 comentários:

  1. ai, andre.

    sinto dizer q concordo com vc, no geral. sinto porque eu gosto muito da Lady Gaga. gosto não apenas da militancia, mas pelo estilo dela. por estilo eu digo as roupas (sim, o chocar pelo chocar me toca. fazer o q ?) das declarações q ela dá e, principalmente, do papel que ela coloca pra mulheres no clipe.

    não pela apenas pela mulher matadora-vingadora mas pela mulher "dona de seu destino", não sei se me fiz entender. ela, de certa forma, dá uma repaginada nesse feminismo q a madonna deixou perdido lá nos anos 80.

    mas, reafirmo, sim, eu concordo com vc. principalmente por causa da comparação com a absoluta Jolie. achei pertinente. mas, dá um desconto pra Gaga. ela ainda tem 24 anos. quem sabe daqui um tempo ela me foque mais, hã?

    beijão.

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  2. Rayssa, tudo bem ?

    Bem, musicalmente nem vou entrar no mérito. Gosto é gosto, não ? Confesso que não vejo a menor diferença entre a batida musical da Gaga com a da Britney.

    Quanto a postura, realmente os videos são muito bem produzidos, e a Letícia até comentou a respeito da postura feminista existente em vários. Ponto para a dona Gaga !

    Sobre o visual. Não vou comentar os modelos anteriores, mas este último, todo feito de carne, foi simplesmente repugnante. Usar o cadáver de um ser, no caso um animal, como forma de levantar a bandeira de qualquer causa é inaceitável !

    Abração

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  3. Olá André. Mais uma vez, um texto bem escrito e provocante. Acho que por conta da minha idade, não conheço muito da música pop contemporânea. Mas sei quem é Lady Gaga e conheço a música Bad Romance. Achei legal você resgatar postulados da Escola de Frankfurt para a partir daí, tecer críticas ao que está por trás de Lady Gaga. Eu disse poucas linhas acima que seu texto é provocante. É mesmo. Por isso, vou aceitar sua provocação: assim como você, sou cristão protestante heterossexual ortodoxo, mas não vejo base nenhuma em lugar nenhum, nem no Direito nem na Ética e muito menos na Bíblia para uma defesa de movimentos GLHBTT e sei lá eu quantas letras mais. Minha opinião é que por detrás deste movimento está uma forma de indústria cultural. A indústria cultural é mais onipresente do que se pensa.
    Mas continue com seus textos, tão bem escritos. Discordo de você no ponto acima citado, mas a amizade, o respeito e admiração continuam do mesmo tamanho.
    Paz e bem,
    Carlos Caldas

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  4. Eu, cristão anglicano, vejo na Bíblia, na Ética e no Direito aval total para a defesa dos direitos sociais, cíveis, econômicos dos GLBTT. Contudo, tenho muito receio de mediocrização dos temas pela rede Pop Art.

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  5. Professor Caldas, obrigado pela participação. Divergências são bem-vindas.

    Irmão Anglicano, concordo em gênero, número e grau contigo. Inclusive, sou um assumido admirador da IEAB, denominação companheira em vários órgãos ecumênicos.

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