Texto de autoria do pastor da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, Rev.Valdinei Aparecido Ferreira, divulgado no site da referida igreja e que será publicado no boletim deste domingo, dia 24 de outubro.
É um texto que eu gostaria de ter escrito!
Chamado à sensatez
É um texto que eu gostaria de ter escrito!
Chamado à sensatez
Rev. Valdinei Aparecido Ferreira
Já faz algum tempo que assistimos no Brasil a uma espécie de duelo entre um ateísmo militante e uma religiosidade delirante. Ateus militantes pintam os religiosos como ignorantes e obscurantistas; por sua vez, religiosos delirantes devolvem a acusação pintando os descrentes como perversos e inimigos de todo bem. Como se isso já não fosse ruim o suficiente, o embate eleitoral tratou de acirrar ainda mais os ânimos. Ateus e religiosos resolveram duelar no palco montado pela política. Aquilo que já era deplorável tornou-se insuportável.
Entre os que ocupam os extremos – ateus militantes e religiosos delirantes –, existem os cidadãos que se respeitam e convivem harmoniosamente com suas diferenças. Muitas vezes habitam sob um mesmo teto. Noutras vezes, são amigos de longa data. O fato é que a maioria dos brasileiros não está disposta a reinventar as guerras religiosas ou ideológicas. Não queremos ser nenhuma teocracia medieval nem qualquer experimento à moda soviética. Queremos ser o que nascemos para ser – terra abençoada por Deus. E, neste caso, reservando-se o direito de que alguns a considerem apenas "abençoada", sem menção do autor da bênção.
O chamado à sensatez, neste contexto, consiste em lembrar que viver num estado laico significa, sobretudo, que todos são iguais perante a lei e, porque são iguais perante a lei, cada um tem o direito de ser diferente até o limite em que a sua diferença não cause danos à integridade física e moral de outros. A civilização chegou a essa regra áurea de convivência pelo duro aprendizado da intolerância e pelas mãos de humanistas cristãos e filósofos iluministas, muitos deles descrentes. Só para citar um exemplo, Voltaire dizia: "Não estou disposto a morrer por nenhuma crença, mas estou disposto a morrer pelo direito de ter uma crença".
Sou homem religioso e pastor por vocação, mas não sou pessoa de preconceitos. Reconheço que a luz da razão pode brilhar em crentes e ateus, por isso valho-me do velho Karl Marx, em uma passagem do "18 Brumário", para entender o momento que vivemos: "Na primeira vez a história acontece como tragédia, e na segunda, como farsa". Pois bem, parece-me que nossas guerras religiosas e ideológicas entre crentes e ateus tupiniquins, principalmente em períodos eleitorais, têm insuportável cheiro de farsa.
Já faz algum tempo que assistimos no Brasil a uma espécie de duelo entre um ateísmo militante e uma religiosidade delirante. Ateus militantes pintam os religiosos como ignorantes e obscurantistas; por sua vez, religiosos delirantes devolvem a acusação pintando os descrentes como perversos e inimigos de todo bem. Como se isso já não fosse ruim o suficiente, o embate eleitoral tratou de acirrar ainda mais os ânimos. Ateus e religiosos resolveram duelar no palco montado pela política. Aquilo que já era deplorável tornou-se insuportável.
Entre os que ocupam os extremos – ateus militantes e religiosos delirantes –, existem os cidadãos que se respeitam e convivem harmoniosamente com suas diferenças. Muitas vezes habitam sob um mesmo teto. Noutras vezes, são amigos de longa data. O fato é que a maioria dos brasileiros não está disposta a reinventar as guerras religiosas ou ideológicas. Não queremos ser nenhuma teocracia medieval nem qualquer experimento à moda soviética. Queremos ser o que nascemos para ser – terra abençoada por Deus. E, neste caso, reservando-se o direito de que alguns a considerem apenas "abençoada", sem menção do autor da bênção.
O chamado à sensatez, neste contexto, consiste em lembrar que viver num estado laico significa, sobretudo, que todos são iguais perante a lei e, porque são iguais perante a lei, cada um tem o direito de ser diferente até o limite em que a sua diferença não cause danos à integridade física e moral de outros. A civilização chegou a essa regra áurea de convivência pelo duro aprendizado da intolerância e pelas mãos de humanistas cristãos e filósofos iluministas, muitos deles descrentes. Só para citar um exemplo, Voltaire dizia: "Não estou disposto a morrer por nenhuma crença, mas estou disposto a morrer pelo direito de ter uma crença".
Sou homem religioso e pastor por vocação, mas não sou pessoa de preconceitos. Reconheço que a luz da razão pode brilhar em crentes e ateus, por isso valho-me do velho Karl Marx, em uma passagem do "18 Brumário", para entender o momento que vivemos: "Na primeira vez a história acontece como tragédia, e na segunda, como farsa". Pois bem, parece-me que nossas guerras religiosas e ideológicas entre crentes e ateus tupiniquins, principalmente em períodos eleitorais, têm insuportável cheiro de farsa.
Valdinei Aparecido Ferreira : Graduado em Teologia pelo Seminário Teológico de Londrina da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Bacharel, Mestre e Doutor em Sociologia pela USP
Poxa, nenhuma palavra sobre Frei Betto, um religioso boa-pinta que comparou ateus militantes a torturadores do regime militar? (Ou melhor, foi o contrário.)
ResponderExcluirQuanto à "guerra" dos ateus (e agnósticos, e religiosos sensatos) contra a forma com que temas como aborto e homossexualidade foram colocados na campanha, não vejo nada de farsa -- lutar contra o tipo de gente que vem dominando esses temas é um dever da civilização; o foi em cada país que conseguiu colocá-los em seu devido lugar e deve ser aqui também. Deixe alguém como o bispo de Guarulhos se manifestar em um país como a Inglaterra ou a Alemanha e veja se ele será respeitado ou enfrentado de frente.
bem, andre.
ResponderExcluireu , de imediato, tendo a concordor com o reverendo. mas acho q ele acaba incorrendo no que o idelber chama de falsa simetria.
hora, um ateu militante é algo bem diferente de um religioso militante.
a minoria atéia é atualmente a mais descriminada. ateu ainda é visto como sinonimo de falta de moral ou maldade pura mesmo.
um religioso militante é alguem dentro do liberdade religiosa e de expressão. um ateu militante é alguem combativo, querendo causar polemico.
rola muito do "qual o sentido de se sair por aí alardeando o ateismo" ou " pq vc precisa ficar reafirmando sua não-crença?"
no mais, eu concordo com o reverendo sim. esse segundo turno virou um circo.
Daniel, meu amigo, prazer em vê-lo por aqui. Quando o Rev. Valdinei aborda a questão eleitoral, ele não está tocando em pontos " polêmicos",como casamento gay, aborto e etc, mas sim na forma como a fé, ou ausência da mesma, por parte dos candidatos, foi usada nesta campanha. O suposto ateísmo de Dilma, o catolicismo pretensamente familiar de Serra e a fé protestante de Marina Silva foram usados como argumentos para votar, ou não, em determinado candidato. A mensagem é essa !
ResponderExcluirRayssa, tudo blz ? Você compreendeu bem o teor do texto. Acho que o " problema " está no termo " militante". Porém, o mesmo não está expressando uma condenação ao ateísta que acredita e propaga suas idéias, mas sim ao cético que trata o crente como um ser idiota e afins.... E vc sabe que há um elevado percentual de ateístas que pensam dessa forma, certo ? Penso que o cerne da questão pode ser encontrado no seguinte trecho : " Ateus militantes pintam os religiosos como ignorantes e obscurantistas; por sua vez, religiosos delirantes devolvem a acusação pintando os descrentes como perversos e inimigos de todo bem ".
Enfim, acredito que o termo " militante " poderia ser substituído por " radical ".
Abração
Ainda sobre o comentário do amigo Daniel. Realmente Frei Betto não foi citado, mas acredito que este trecho pode ser interpretado como uma crítica velada a besteira homérica proferida pelo Frei : "por sua vez, religiosos delirantes devolvem a acusação pintando os descrentes como perversos e inimigos de todo bem ". Em suma, Frei Betto delirou.
ResponderExcluirTambém não foi necessário citar nominalmente Richard Dawkins, penso que este trecho se encaixa perfeitamente ao cientista inglês : " Ateus militantes pintam os religiosos como ignorantes e obscurantistas ".
Abraço
como ja delineei, esta dissertação pode ser tomada, em parte, como a contraparte teísta e menos militante do meu texto de hj do bule, http://bulevoador.haaan.com/2010/10/22/o-alcance-do-ativismo-secularista/
ResponderExcluirconcordo com o positivismo do reverendo em relacao ao laicismo que eu costumo de chamar de "prático", aquele que é a contraparte do "utópico", que o radicalismo ateísta defende (qnd se trata de trocar nome de cidade de santo, e outras bobeiras). o laicismo pratico é defensavel pq ele sim é o respeito mutuo entre as praticas religiosas e irreligiosas.
no entanto, a rayssa tem toda razao em levantar a questao do perigo de uma falsa simetria. nao dá pra botar na mesma balança o ativismo ateísta com o ativismo religioso, sao de origens e essencias diferentes, e tem pesos muito diferentes, tanto pela repressao de um em detrimento de outro (histórica) quanto pelo ideal defendido (no caso do humanismo secular, por exemplo, q é um braço do ativismo ateísta, digamos, os ideais sao focados num realismo pratico, e isso pra mim tem mt mérito, acima da subjetividade e absolutismo moral de muito ativismo religioso, capiche?)
abraço andre!
Em suma, Pedro; tudo se resume no termo " militante". De resto, creio que todos estamos de acordo.
ResponderExcluirAbração
Ei, André, que injustiça você dizer que "só assim" venho no teu blog :-)
ResponderExcluirLeio sempre que posso, é que não comento os posts mais sobre teologia, não é minha área :-p
Frei Betto acusa igreja de oportunista.
ResponderExcluirO frade dominicano responsabiliza a própria Igreja Católica por introduzir um “vírus oportunista” na disputa eleitoral.
E define como “oportunistas desesperados” os bispos da Regional Sul 1 da CNBB (São Paulo) que assinaram no fim de agosto uma nota, depois tornada panfleto, recomendando aos fieis a votarem no candidato deles.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/819034-frei-betto-responsabiliza-igreja-por-ter-introduzido-virus-oportunista-na-campanha.shtml
Isso vira um barril de pólvora. Todo radicalismo cego é burro, tanto ateu quanto teísta. E é uma pena que seja essas questões que estejam sobresaindo na campanha.
ResponderExcluirUm abraço