terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Protestantismo em imagens. Luteranismo . Parte I

Há um forte consenso a respeito da pobreza simbólica existente no protestantismo. Tillich já dizia que o elemento simbólico é fundamental para o cultivo da religiosidade. Segundo o teólogo alemão, esta seria a grande fraqueza do protestantismo diante dos outros dois grandes ramos do cristianismo, o catolicismo romano e a ortodoxia oriental. Religião sem símbolo, sem mito, torna-se um mero apanhado de pressupostos dogmáticos. Neste ponto, o pentecostalismo, a despeito de sua iconoclastia, possui uma maior proximidade com o aspecto misterioso e místico da religião, graças a sua conhecida catarse ritualística.

Dentre os três grandes ramos do protestantismo histórico ou magistral, considerando o anglicanismo como parte dessa família, o calvinismo foi o que demonstrou uma maior antipatia para com o simbolismo litúrgico.

Fora do ambiente anabatista, foi a tradição reformada responsável pela solidificação do sentimento iconoclasta predominante durante boa parte da história do protestantismo. São conhecidas as histórias de atos de vandalismo contra igrejas, ocorridos em países de maioria calvinista, como Holanda, Suíça e Escócia. O famoso adágio reformado “quatro paredes e um sermão” tornou-se regra nas jovens igrejas reformadas. Aproveitando a estrutura arquitetônica das esplêndidas igrejas romanas medievais, os calvinistas eliminaram, por completo, imagens, vitrais e até mesmo órgãos de suas igrejas. Segundo um amigo que viajou recentemente à Holanda, uma importante igreja reformada de Amsterdã apresenta todas suas paredes laterais caiadas, devido à virulenta retirada de belas obras de arte sacra em seu recinto interno.

Tal fobia do protestantismo reformado diante da representação física do sagrado é oriunda de um aspecto central de sua doutrina; a absoluta transcendência de Deus. Para Calvino, além do perigo de gerar práticas idólatras, a representação do sagrado, por meio de representações materiais, seria uma afronta à soberania divina. O reformador genebrino ensinava ser completamente impossível um elemento finito representar algo infinito, como Deus.

Partindo de um pensamento oposto, Martinho Lutero acreditava que o finito, de forma limitada, poderia demonstrar algo do Sagrado. Assim, o luteranismo não criou empecilhos para o desenvolvimento da arte sacra em seu meio.

Retornando ao universo reformado. A tendência de aversão à arte sacra, principalmente no seu aspecto iconográfico, foi gradativamente revertida em meados do século 19, como resultado de um despertamento litúrgico ocorrido no seio de várias denominações presbiterianas/reformadas européias e até mesmo estadunidenses. Nos dias atuais, principalmente no hemisfério norte, é comum deparar-se com belas igrejas calvinistas ostentando cruzes tradicionais, célticas e vitrais decorados com cenas bíblicas.

Bem, este texto foi apenas uma pequena introdução a respeito da arte sacra dentro do protestantismo. Já ensaiei escrever sobre este assunto em outro post, onde apresentei minha comunidade eclesial, a Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, conhecida como Catedral Evangélica, como modelo de arquitetura gótica dentro do protestantismo paulistano, a despeito de seus vitrais ao melhor espírito puritano, isto é, sem representações físicas.

Acredito que um assunto tão interessante possa ser compreendido não por palavras, mas por imagens. Assim, estarei divulgando fotos de igrejas protestantes ao redor do mundo, majoritariamente localizadas em países onde o protestantismo foi um dos elementos formadores de sua cultura. Para facilitar, estarei dividindo os templos e demais monumentos arquitetônicos de acordo com sua respectiva tradição. Para começo de conversa, vamos viajar pelo aspecto artístico do luteranismo. Boa viagem.

Obs : Não sou luterano, mas reformado ( presbiteriano independente ) .

POR ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA



















































5 comentários:

  1. André, ainda não vou comentar seu texto, só passei para desejar-lhe felicidades em 2011.

    Abraços amigo!

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  2. André,

    Hoje já andei dando uma lida em seus artigos...muito bem garoto!! Está de parabéns.

    Assim que der, volto para comentar!

    Feliz 2011..

    Beijos..a paz querido!

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  3. Amigos, obrigado pela presença.

    Feliz 2011 .

    André

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  4. Nunca houve, em tempo algum, uma religião sem algum tipo de ícone.

    Até mesmo o judaísmo deu o seu "jeitinho" de representar Deus de forma sensível nas Escrituras (forma audível e imaginativa, e na Arca da Aliança e Templo de Jerusalém (ícones visuais) da localização divina.
    No cristianismo, cremos que Deus "em pessoa" se tornou visível e tangível em Jesus de Nazaré.
    Realmente, concordo plenamente com Lutero, quando disse mais ou menos assim: "se Deus nos fez de tal modo que quando lemos nos Evangelhosa o relato da Paixão logo imaginamos um homem pendente num madeiro, e isto não é pecado, porque seria tê-lo diante dos olhos?"

    Eu não consigo mais entender a lógica dos iconoclastas!
    Uma religião sem símbolos e sinais acaba reduzida a uma filosofia!

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  5. " Eu não consigo mais entender a lógica dos iconoclastas! "

    Eu também. Este é um dos motivos que não suporto mais aquele antigo calvinismo ortodoxo que tinha como referencial !

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