sexta-feira, 2 de julho de 2010

No Brasil, futebol é religião. Ed René Kivitz


Estou postando um brilhante texto de autoria do pastor Ed René Kivitz, teólogo e pastor da Igreja Batista da Água Branca, bairro de São Paulo. Para quem não sabe, o referido pastor faz uma crítica velada ao comportamento preconceituoso dos jogadores evangélicos do Santos Futebol Clube, que por ocasião da Páscoa, sequer entraram em uma instituição assistencial espírita responsável pelo amparo de crianças portadoras de paralisia cerebral.

Sinceramente, também não me surpreendo com o comportamento de parte do plantel do time da baixada. Para quem praticamente nasceu em berço evangélico, como é meu caso, este tipo de intolerância não é novidade ! Mas, confesso, ainda me dá nojo ! Navegando pela rede, deparei-me com vários artigos de " defensores da reta doutrina", supostos grandes teólogos, amantes da ortodoxia da igreja brasileira, criticando, até mesmo de forma áspera, o texto abaixo. Um certo blog, conhecido por sua " fidelidade " a um tipo de cristianismo que, a meu ver, nada se aproxima de Jesus Cristo, publicou um post de autoria de um pastor da mesma denominação de Kivitz repleto de acusações ao ninistro da Água Branca. Não vou divulgar o endereço correto, afinal, não quero fazer propaganda de fundamentalistas hipócritas. Mas, se alguém conseguir encontrar este blog, verá, até mesmo, a aplicação de textos claramente fora do contexto a fim de sustentar um exclusivismo jamais praticado por Jesus Cristo. Afinal, não foi o nazareno que, para escândalo dos religiosos da época, sentou-se com publicanos e pecadores ?

NO BRASIL, FUTEBOL É RELIGIÃO - Por Ed René Kivitz


Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa. Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles. O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros. Por isso cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a superação da religião, e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade, em detrimento das categorias da religião.

A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais de cada tradição de fé. A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais de todas e cada uma das tradições de fé.

Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno, ou se Deus é a favor ou contra à prática do homossexualismo, ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus, você está discutindo religião. Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a ressurreição, a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis, e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão, você está discutindo religião. Quando você fica perguntando se a instituição social é espírita kardecista, evangélica, ou católica, você está discutindo religião.

O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Yahweh, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e por aí vai. E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros, ou pela conversão à sua religião, o que faz com que os outros deixem de existir enquanto outros e se tornem iguais a nós, ou pelo extermínio através do assassinato em nome de Deus, ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo, isto é, um ídolo que pretende se passar por Deus.

Mas quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis, em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão, solidariedade, amor e caridade, você está no horizonte da espiritualidade, comum a todas as tradições religiosas. E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de religião, você promove a justiça e a paz. Os valores espirituais agregam pessoas, aproximam os diferentes, faz com que os discordantes no mundo das crenças se deem as mãos no mundo da busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero, e inclusive religião.

Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus. Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina – ou pelo menos deveria ensinar, você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.

Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico, e santista desde criança

4 comentários:

  1. Que belo e esclarecedor artigo de Kivitz. Infelizmente os "cristãos" dos tempos hodiernos estão mais preocupados com seus dogmas/doutrinas e verdades do que alcançar o próximo por intermédio do amor, da compreensão e da solidariedade. Por isso que prefiro dizer que sou jesuano e não cristão, pois o primeiro denota seguimento de Jesus através do amor e da inclusão, o ultimo cheira religião, baseada na exclusão/intolerância (oh quanta atrocidade os cristãos praticaram em nome de Cristo, basta consultarmos as páginas sangrentas da História, principalmente alguns casos de evangelização/proseletismo/missão).
    As palavras de Ed me faz lembrar as críticas erasmianas aos cristãos no périodo do renascimento europeu... os mesmos estavam por demais preocupados com as questões religiosas e esquecendo-se das pessoas:

    "Talvez celebres a Missa diariamente. Ainda assim, se viveres preocupado somente com seu bem-estar e não te importares com as dificuldades e necessidades do próximo, ainda estarás na matéria do sacramento. O sacrifício da Missa neste sentido espiritual significa que pertencemos a um único corpo com o Corpo de Cristo, somos membros vivos da Igreja. Se nada amas exceto em Cristo, se acreditares que todas as suas posses são propriedade comum a todos os homens, se fez suas as dificuldades e privações do próximo, então, participarás da Missa de forma proveitosa, pois participas de maneira espiritual. Penso existirem muitos que contam quantas vezes foram à Missa e acreditam que esta será sua salvação. Estão convencidos que nada devem a Cristo. Ao sair da igreja, imediatamente voltam aos seus hábitos anteriores. Não hesito em elogiá-los por estarem presentes à Missa, mas sou forçado a condená-los por pararem neste ponto. [...] Observa teus sentimentos e perceba se a presença nas cerimônias religiosas faz com que estejas morto para o mundo. Se estiveres preenchido de ambição e inveja, mesmo que ofereças teu sacrifício, estás distante do verdadeiro significado da cerimônia religiosa" Erasmo de Rotterdam in Enchiridion Militis Christianis ou Manual do Soldado Cristão

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  2. sabe. eu não achei um problema os caras não terem descido do onibus. isso é uma opção deles. eu tbm não desceria para ajudar pessoas que estão sob a influencia direta de quaquer instituição religiosa. sabe pq?

    http://www.interney.net/blogs/lll/2010/04/04/voce_doaria_brinquedos_aos_nazistas/

    pq eu concordo plenamente com o alex nesse texto.

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  3. A "religiosidade excessiva" ou fanatismo religioso, faz com que as pessoas se subdividam em estamentos completamente distintos. Isso,a meu ver, só enfraquece o cristianismo. Se somos cristãos, deveríamos respeitar o livre-arbítrio de cada um. Afinal,se resumirmos em apenas dois, os dez mandamentos: "amar a Deus sob todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo"; tais preconceitos como esses não aconteceriam.

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  4. Fellizmente irmão não concordo com o seu artigo; religião(cristianismo) faz parte da nossa vida, e se somos verdadeiros cristãos temos que amar acima de tudo, e não deixar-mos de orientar o homem do pecado que cometeu o que irá cometer, e, deixar bem claro que o arrependimento leva ao perdão divino. Temos que ser solidários, compreensivos fraternos... porém, a palavra de Deus é clara ele ama o pecador e não o pecado...Que a paz do nosso Senhor Jesus Cristo esteja em nossos corações.

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