segunda-feira, 5 de julho de 2010

Aula. Martinho Lutero


Conteúdo da aula ministrada por mim, dia 27 de Junho de 2010, na classe Timóteo, ligada ao Departamento de Jovens da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo.
Para os interessados, nos reunimos todos os domingos às 9.30, na sala 45 do Edifício Eduardo Carlos Pereira, rua Nestor Pestana 136/152, Consolação, São Paulo-SP.
Sejam Bem-Vindos !

Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo
Escola Dominical – 27/06/2010
Classe Timóteo
Professores: Emílio Zambon de Mendonça
Marcelo Custódio de Andrade e André Tadeu de Oliveira .


Tema: Grandes nomes da Espiritualidade Cristã

MARTINHO LUTERO

Introdução


Como protestantes, é fundamental que compreendamos um pouco da vida e obra de Martinho Lutero, principal expoente do movimento de reforma ocorrido na igreja ocidental no século XVI. Obviamente, a reforma não nasceu exclusivamente por obra e vontade do próprio Lutero. Além de ter sido precedido por vários pré-reformadores, como João Huss e João Wycliff, o movimento desencadeado por Lutero contou com uma conjuntura econômica, social e política bastante favorável. Convém lembrar que Lutero não desejava a criação de uma nova igreja, mas sim uma ampla reforma no seio da Igreja Cristã Ocidental, conhecida, após o Concílio de Trento, como Igreja Católica Apostólica Romana.

Antes de estudarmos com um pouco mais de profundidade o pensamento teológico de Lutero e tentarmos aplicá-lo em nossa vida cotidiana, devemos conhecer um pouco de sua trajetória histórica.

Vida

Martinho Lutero nasceu em 10 de Novembro de 1483 na pequena cidade de Eisleben, Alemanha. Seu pai era um trabalhador de minas de origem camponesa que tinha conseguido obter uma situação financeira relativamente estável. Bastante rígido, desejava que seu filho seguisse a carreira de advogado, preparando-o para tal nas melhores escolas da região.

No entanto, um acontecimento mudaria de forma drástica a vida do jovem Lutero. Em meio a uma forte tempestade e cercado por raios, o futuro reformador, temendo por sua vida, prometeu a Santa Ana que, caso fosse poupado da morte eminente, dedicaria sua vida ao serviço cristão como monge. Nada ocorreu com Lutero, sendo que manteve firme sua promessa, ingressando, em 17 de Julho de 1505, no Mosteiro dos Agostinianos de Erfurt. Tal decisão provocaria uma ruptura com seu pai.

Já como monge agostiniano, Lutero se esmerou em suas funções como religioso. Participava com devoção de todos os momentos de oração realizados no convento, estudava com afinco a Bíblia Sagrada e confessava seus pecados com certa freqüência. Corroborando as práticas citadas acima , é bastante interessante a informação transmitida por Martin N. Dreher, pastor e historiador luterano brasileiro (Dreher, p.25)


As regras monásticas foram rigorosamente observadas por Martin, que nisso não se distinguia dos demais integrantes da comunidade monástica. As histórias bíblicas e a oração das horas familiarizaram-no com a Bíblia. Em dois de maio de 1507celebrou sua primeira missa, oportunidade em que quase fugiu do altar por julgar-se indigno de realizar o sacrifício da missa diante da majestade divina.

A despeito de toda sua dedicação, não conseguia encontrar paz interior. Considerava-se um grande pecador, procurando a justificação por suas falhas em sua própria vida religiosa. A este respeito, o próprio Lutero deixou registrado o seguinte depoimento;

Eu me martirizava com a oração, o jejum, as vigílias, o frio. Que procurava com isso senão a Deus? Ele sabe com quanto zelo observei minha regra monástica e que vida severa eu levava. Pois eu não confiava em Cristo, assim tomava-o por nada além de um juiz severo e terrível, tal como se costuma pintá-lo sobre o arco-íris (WA 45, 482, 10-17- citado por Marc Lienhard, p.38).

No meio de tamanha crise espiritual, Lutero foi escolhido por seu superior eclesiástico para dirigir cursos de filosofia e de interpretação bíblica na recém organizada Universidade de Wittenberg. Tal responsabilidade foi concedida em 1508. Em 1510 passou brevemente por Roma. Em 1512, novamente em Wittenberg, obtêm o doutorado em teologia.

Tal envolvimento com a Bíblia foi fundamental para que o jovem monge descobrisse a resposta para todas suas indagações espirituais. Provavelmente em 1515, quando aplicava um curso sobre a Epístola de Paulo aos Romanos, o estudo apurado do capítulo 1, versículo 17, levou à conclusão de que a paz que tanto ansiava seria obtida apenas pela fé em Jesus Cristo. Esta convicção mudou completamente a vida de Lutero, sentindo, finalmente, o real sentido da justiça de Deus.


Após esta forte experiência, Martinho Lutero continuou exercendo com brilhantismo sua carreira como professor, assim como sua vocação monástica. No entanto, um episódio, o das indlugências, seria o estopim de todo um movimento não planejado por Lutero; uma reforma que resultaria em uma ruptura com a igreja instituída.

A fim de angariar fundos para a reconstrução da Basílica de São Pedro, em Roma, o papa Leão X autorizou a cobrança de indulgências por toda Europa. Alister McGrath, teólogo irlandês nos explica de forma bastante didática a questão das indulgências;

A teoria que dava embasamento à venda de indulgências era confusa, mas parece apoiar-se na idéia da gratidão do pecador pelo perdão de seus pecados. Uma vez que os pecadores tinham certeza de haver sido perdoados pela igreja, que atuava em nome de Cristo, eles naturalmente desejariam expressar sua gratidão de alguma forma positiva. Gradualmente, a doação de dinheiro para caridade, inclusive diretamente para os fundos eclesiais, passou a ser encarada como uma maneira comum de se expressar gratidão pelo perdão merecido. Deve-se destacar que, de acordo com a mentalidade da época, isso não significava que um pecador comprasse o perdão. A doação em dinheiro era uma conseqüência do perdão, não uma condição para isso. Contudo, até a época de Martinho Lutero, esse conceito fora distorcido e interpretado de maneira equivocada. As pessoas pareciam acreditar que as indulgências eram um modo rápido e conveniente de comprar o perdão dos pecados. ( McGrath,p.97-98 ) .

O responsável pela venda de indulgências no território alemão foi o monge dominicano Tetzel. Esta verdadeira comercialização da fé chocou Lutero, levando-o a divulgar em 31 de outubro de 1517 suas famosas 95 teses contra a cobrança de indulgências. Mesmo esta data sendo considerada como marco da reforma, convém lembrar que nestas teses Lutero não propunha nenhuma mudança dogmática radical, contestando, apenas, alguns pontos doutrinários e práticos relativos a esta questão.

Não obstante, a discussão levantada por Lutero mexeu nos cofres da igreja, fazendo com que o mesmo fosse considerado, contra sua vontade, inimigo da Igreja.

Perderíamos muito tempo nos alongando sobre os acontecimentos posteriores que desencadearam em uma profunda reforma na igreja. Ao mesmo tempo, estes fatos são fundamentais para uma real compreensão da mesma. Por isso, usando a cronologia proposta pelo professor Marc Lienhard, em seu livro “Martim Lutero, Tempo, Vida e Mensagem”, destacaremos os principais momentos da vida de Lutero após 1517.

•7 de Agosto de 1518: Lutero é convocado para Roma.

•4-14 de Julho de 1519: Debate entre Lutero e o teólogo João Eck .

1520: Publicação dos grandes escritos reformadores; Das Boas Obras, Tratado acerca da Liberdade Cristã, Do Cativeiro Babilônico da Igreja, Á nobreza cristã da nação alemã, acerca da melhoria do estamento cristão. Convém lembrar que são nestas obras que encontramos o pensamento de Lutero já completamente tomado de idéias reformistas.

•Janeiro de 1521: Lutero é excomungado.


•16-18 de Abri de 1521 : Apresenta-se diante do imperador na chamada Dieta de Worms, onde reafirma suas idéias reformatórias.

•13 de Junho de 1525: Casamento com Catarina de Bora.

*18 de Fevereiro de 1546 : Falecimento .

Teologia

O pensamento teológico de Lutero é bastante rico. Assim, iremos estudar, de forma breve, algumas idéias básicas e bastante interessantes do reformador alemão.

1 – Justificação pela fé.

Através da descoberta ocorrida após o estudo realizado sobre Romanos 1.17, o ser humano não é justificado, isto é, salvo, por seus próprios méritos, mas sim por sua fé em Cristo Jesus. Assim, Lutero afirma que boas obras não são responsáveis pela salvação. Obviamente, a prática de boas obras tem uma importância fundamental na vida do cristão. Porém, as mesmas devem ser vistas como fruto de nossa justificação, e não como causa.

2- Autoridade da Bíblia.

Para Lutero, a Bíblia Sagrada é autoridade suprema em matéria de fé. Não há concílio eclesiástico, tradição ou qualquer outro ponto que possa rivalizar com o livro sagrado. Para o reformador, a Bíblia era Palavra de Deus. No entanto, esta idéia de palavra de Deus não pode ser vista de acordo com o pressuposto fundamentalista, que considera todas as palavras do texto bíblico isentas de qualquer erro. Segundo Lutero, a Bíblia é a palavra de Deus pelo fato de proclamar Jesus Cristo como único caminho ao pai.

3- Conhecimento de Deus / Teologia da Cruz.

Concordando com toda a tradição cristã clássica, Lutero afirma que podemos ter indícios sobre Deus por meio da razão ou através do conhecimento da própria natureza. Porém, este conhecimento não é total, não podendo nos dar uma certeza plena a respeito da divindade, assim como não produz efeito sobre nossas vidas.

Desta forma, o teólogo alemão defende a idéia de que Deus se revelou não através de sua glória criadora, mas sim através de Jesus Cristo, e este crucificado. É no sofrimento, na humilhação, que Deus se revelou ao homem. Este pensamento teológico é bastante útil em um mundo como o nosso marcado pela dor e sofrimento, pois podemos ter a consciência que Deus se encontra a nosso lado mesmo nos momentos mais desesperadores.

4- Igreja e Sacramentos.

A respeito do conceito sobre a Igreja, Lutero defende que a mesma não pode ser reduzida a uma mera instituição. Obviamente, tinha a organização eclesiástica em alta conta, defendendo a permanência na instituição por parte dos crentes. No entanto, ensinava que a verdadeira igreja de Cristo é composta por todos os crentes, tanto os vivos quanto os falecidos. Mesmo reconhecendo a diferenciação ministerial, isto é, a autoridade de ministros e pastores, apregoava o sacerdócio universal dos crentes, a igualdade de todos os cristãos diante de Deus, sendo que qualquer pessoa poderia se dirigir a Deus sem a intermediação de sacerdotes e afins. Além do mais, o trabalho cristão passa a ser uma prerrogativa de todo fiel, não apenas do ministro.

Sobre os sacramentos, Lutero abandonou a doutrina católico-romana dos sete sacramentos, ensinando que só possuem valor sacramental os dois ritos narrados nos evangelhos, a saber: Batismo e Santa Ceia.

Conclusão.

Infelizmente, o tempo de nosso curso não permite um estudo mais profundo na vida e obra de Lutero. Martinho Lutero foi um grande homem de Deus, porém, como todo ser humano, cometeu falhas, tanto em ensinamentos como em atitudes. A despeito destas falhas, sua teologia é de fundamental importância não apenas para compreendermos nossas origens como cristãos reformados, mas para aplicarmos em nossa vida cotidiana. Assim, estudemos Lutero.

ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA

4 comentários:

  1. Muito legal.
    Gostei especialmente da citação de McGrath sobre qual deveria ser a visão das indulgências

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  2. Olá gostaria de saber como posso entrar em contato com o professor Emilio Zambon de Mendonça?

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  3. Olá, vc cita o nome do professor Emílio zambon de Mendonça, eu precisaria de algum contato dele, pois estou fazendo uma dissertação de mestrado cujo objeto é a igreja pentecostal deus é amor. Li o trabalho dele sobre esta Igreja e penso que ele pode me ajudar a avançar na minha pesquisa.
    Vc sabe como consigo encontrar algum email ou telefone que eu possa falar com ele. Desde já agradeço
    Alden (mestrando puc-sp)

    ResponderExcluir
  4. Olá, vc cita o nome do professor Emílio zambon de Mendonça, eu precisaria de algum contato dele, pois estou fazendo uma dissertação de mestrado cujo objeto é a igreja pentecostal deus é amor. Li o trabalho dele sobre esta Igreja e penso que ele pode me ajudar a avançar na minha pesquisa.
    Vc sabe como consigo encontrar algum email ou telefone que eu possa falar com ele. Desde já agradeço
    Alden (mestrando puc-sp)

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