Aula ministrada ontem, 04 de Julho de 2010, na sala Timóteo, departamento de Jovens da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo.
Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo
Escola Dominical- 04/07/2010
Professores: Emílio Zambon de Mendonça, Marcelo Custódio de Andrade, André Tadeu de Oliveira
Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo
Escola Dominical- 04/07/2010
Professores: Emílio Zambon de Mendonça, Marcelo Custódio de Andrade, André Tadeu de Oliveira
Tema: Grandes nomes da Espiritualidade Cristã – JOÃO CALVINO
Introdução
Na aula passada estudamos a vida e obra de Martinho Lutero, o grande vulto da Reforma Protestante do Século XVI. Hoje, iremos focar nossa atenção em João Calvino, reformador francês considerado o grande nome da chamada tradição reformada. Como presbiterianos independentes, devemos ter o mínimo de intimidade para com a vida e teologia de Calvino, já que o mesmo é considerado o pai do presbiterianismo.
Desta forma, cabe lembrar que somos calvinistas. No entanto, ser calvinista não significa seguir de forma cega, acrítica, tudo que Calvino ensinou. Calvino foi um grande homem de Deus. Porém, como qualquer ser humano, cometeu atos falhos e defendeu determinadas doutrinas e atitudes que não cabem mais em nossos dias. A despeito destas considerações, o reformador francês é o ponto teológico inicial para todo o cristão reformado.
Vida
João Calvino nasceu na cidade francesa de Noyon em 10 de Julho de 1509. Ao contrário de Lutero, sua família pertencia a uma classe social mais abastada, sendo o pai um burguês que exercia o oficio de secretário do bispo local e a mãe descendente da nobreza francesa.
Seguindo a vontade paterna, Calvino iniciou seus estudos visando à ordenação ao sacerdócio católico-romano. É enviado em 1522 ao Colégio de La Marche, em Paris, onde aprendeu latim, filosofia e artes. Em 1524, a fim de completar sua formação, seguiu para o Colégio de Montaigu, dedicando-se ao aprendizado da gramática, filosofia e teologia. Por esta escola passaram pensadores de renome, como Erasmo de Roterdã e Inácio de Loyola. Ao mesmo tempo em que se dedicava com afinco aos estudos, teve contato com alguns escritos de Lutero e com as idéias do padre humanista francês Jacques Lefévre, que defendia a tese de uma reforma dentro do seio da Igreja.
Eduardo Galasso Faria nos transmite alguns detalhes a respeito da vida estudantil do jovem Calvino;
Nos anos em que estudou em Paris, Calvino se revelou um estudante inteligente, perspicaz, dedicado e obsessivo, lendo até altas horas da noite e levantando de madrugada, apesar de suas freqüentes dores de cabeça e do estômago ( Galasso,p.14 ).
Após anos de dedicados estudos, Calvino obtêm o título de mestre em Artes em 1528. Neste mesmo ano, seu pai rompe com o bispo de Noyon, sendo que Calvino é persuadido pelo pai a abandonar a vocação eclesiástica por uma sólida carreira jurídica. Para tal, matriculou-se no curso de Direito na cidade de Orléans. Durante este período, dedicou-se, também, ao estudo do grego por intermédio do professor luterano Melchior Wolmar.
Com a morte do pai em 1531, sente-se livre da obrigação do estudo do direito, decidindo dedicar sua vida aos estudos e demais assuntos acadêmicos. Para tal, dirigiu-se para Paris, capital e pólo cultural francês. Como conseqüência deste período de crescimento intelectual, publicou seu importante comentário “Sobre a Clemência”, analisando a obra do filósofo romano Sêneca.
Em 1533, um fato seria determinante na vida de Calvino. Neste ano, o reitor da Universidade de Paris, Nicolas Cop, redige um discurso inaugural com claras idéias reformistas. Calvino, já conhecido na cidade como adepto das novas idéias, é considerado o autor do discurso. Buscando poupar sua vida, foge da cidade.
Considerado um herege foragido no território francês, estabelece-se em 1535 em Basiléia, na Suíça. Nesta cidade, em 1536, publicaria a primeira edição em latim daquela que seria sua obra magna, a Instituição da Religião Cristã, também conhecida como Institutas. Sobre esta primeira edição, o historiador metodista cubano Justo L Gonzalez faz os seguintes comentários;
Era um livro de 516 páginas, porém de formato pequeno, de modo que cabia facilmente nos amplos bolsos que se usavam antigamente, e podia circular dissimuladamente pela França. Constava de apenas seis capítulos.( Gonzalez,p.110). Portanto, seu principal projeto era um breve resumo da fé cristã do ponto de vista protestante.( Gonzalez, idem )
Após esta edição, várias outras foram lançadas, sempre alternando entre o latim e o francês, sendo a edição definitiva publicada em 1559, sob o formato de quatro livros.
Neste mesmo ano, impedido de retornar a França por causa de uma obstrução na estrada, Calvino passou rapidamente por Genebra. Persuadido por Guilherme Farel, pregador francês que tinha implantado a reforma neste cantão suíço, decide permanecer em Genebra, onde assume a função de organizar a igreja evangélica recém organizada. Após entrar em atrito com as autoridades locais, Calvino, junto com Farel, é expulso de Genebra em 1538, exilando-se em Estrasburgo. Nesta cidade, além de conhecer a mulher de sua vida, Idallete de Bure, amadurece suas idéias litúrgicas e eclesiásticas.
É convidado, em 1541, a retornar a Genebra, estabelecendo, em definitivo, a Igreja Reformada naquela região.
Teologia
Agora, vamos nos ater em algumas das principais idéias teológicas de Calvino.
1-Soberania ou majestade de Deus
É convidado, em 1541, a retornar a Genebra, estabelecendo, em definitivo, a Igreja Reformada naquela região.
Teologia
Agora, vamos nos ater em algumas das principais idéias teológicas de Calvino.
1-Soberania ou majestade de Deus
Ao contrário do que é usualmente ensinado, o ponto principal da teologia de Calvino não era a doutrina da eleição, ou predestinação, mas sim a questão da soberania de Deus. Sobre esta questão, Paul Tillich, importante teólogo luterano, afirma;
O centro de onde emanam todas as demais doutrinas de Calvino é a doutrina de Deus. Alguns acham que sua doutrina fundamental é a da predestinação. Essa opinião é facilmente refutável uma vez que na primeira edição das Institutas, a doutrina da predestinação não havia nem mesmo sido desenvolvida. Foi só nas edições posteriores que passou a ocupar espaço proeminente. Para Calvino, a doutrina central do cristianismo é a majestade de Deus. Ele ensinou mais claramente do que qualquer outro reformador que Deus é conhecido numa atitude existencial. Ensinou a correlação entre miséria humana e majestade divina. ( Tillich, p.259 ).
Desta forma, o cerne do pensamento de Calvino pode ser encontrado na idéia de um Deus que exerce sua soberania sobre todo o universo, sendo que o ser humano jamais poderia ofuscar esta soberania chegando a Ele por seus próprios esforços, mas apenas pela graça do Deus soberano. Assim, não há nada que ocorra na história que não esteja ligado a vontade soberana de Deus.
2-Eleição ou Predestinação.
Como decorrência da doutrina da soberania ou majestade de Deus, Calvino ensinou que, a salvação, obtida por fé é reservada para algumas pessoas eleitas, isto é, predestinadas por Deus.
Obviamente, a partir do momento em que há um grupo de pessoas eleitas para a salvação, subtende-se que há outro grupo predestinado a danação.
Esta doutrina defendida por Calvino tem sua base melhor formulada em Agostinho. Convém ressaltar um aspecto; mesmo tendo sido defendida por Calvino, a doutrina da eleição não teve, como vimos acima, o peso atribuído por gerações posteriores de teólogos calvinistas. Em um passado recente, teólogos reformados, como Karl Barth, realizaram uma interessante revisão desta doutrina.
3-Autoridade da Bíblia.
Assim como Lutero, Calvino considerava a Bíblia como Palavra de Deus e regra máxima de fé prática. Porém, da mesma forma que Lutero, não defendia a idéia tão popular em grupos fundamentalistas, de que o texto bíblico seja inspirado verbalmente ou isento de qualquer erro.
Seu método de interpretação bíblica era chamado de “ acomodação”, isto é, Deus, usando uma linguagem rude e, até mesmo, falha, acomodou sua revelação de forma que fosse compreensível para o ser humano que viveu na época em que o texto foi formulado.
4-Santificação
Para Calvino, após a experiência de justificação pela fé, o crente deve experimentar um período de santificação, isto é, de busca pelo padrão moral e ético mais elevado. Afinal, o cristão é testemunha de Jesus Cristo. Contudo, este processo de santificação não é completo, podendo variar de acordo com cada pessoa. O Catecismo Maior de Westminster, padrão doutrinário da IPI do Brasil, se manifesta a respeito desta questão da seguinte forma;
Embora a santificação esteja inseparavelmente ligada à justificação, elas são diferentes. Na justificação, Deus imputa a justiça de Cristo; na santificação, seu Espírito infunde graça e capacita a exercitá-la. Na justificação, o pecado é perdoado. Na santificação, ele é subjugado. A justificação liberta igualmente todos os crentes do castigo divino de uma forma tão perfeita que eles nunca são condenados nesta vida. A santificação não é igual em todos, nem é alcançada de forma perfeita por ninguém. Sempre pode haver crescimento no rumo da perfeição.
Portanto, fica claro o papel ético, prático e pessoal deste processo de santificação. Para concluirmos, citaremos o que o pastor e teólogo presbiteriano norte-americano John H.Leith escreveu a respeito deste processo de santificação, alertando-nos a respeito do perigo do moralismo existente neste conceito;
Calvino e a tradição reformada fracassaram na manutenção da tensão, e enfatizaram demais a santificação. Um resultado disso tem sido o legalismo, no qual sempre acaba faltando graça. Outro resultado tem sido a auto justificação, especialmente quando o pecado é reduzido à sensualidade, que é mais controlável do que o orgulho ou a apatia, especialmente na velhice. Uma terceira conseqüência tem sido o obscurantismo, quando a vontade de Deus é identificada prematuramente com algum padrão humano de conduta. O equilíbrio adequado entre perdão e santidade não é algo simples na vida cristã ( Leith, p.122)
ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA
Esta doutrina defendida por Calvino tem sua base melhor formulada em Agostinho. Convém ressaltar um aspecto; mesmo tendo sido defendida por Calvino, a doutrina da eleição não teve, como vimos acima, o peso atribuído por gerações posteriores de teólogos calvinistas. Em um passado recente, teólogos reformados, como Karl Barth, realizaram uma interessante revisão desta doutrina.
3-Autoridade da Bíblia.
Assim como Lutero, Calvino considerava a Bíblia como Palavra de Deus e regra máxima de fé prática. Porém, da mesma forma que Lutero, não defendia a idéia tão popular em grupos fundamentalistas, de que o texto bíblico seja inspirado verbalmente ou isento de qualquer erro.
Seu método de interpretação bíblica era chamado de “ acomodação”, isto é, Deus, usando uma linguagem rude e, até mesmo, falha, acomodou sua revelação de forma que fosse compreensível para o ser humano que viveu na época em que o texto foi formulado.
4-Santificação
Para Calvino, após a experiência de justificação pela fé, o crente deve experimentar um período de santificação, isto é, de busca pelo padrão moral e ético mais elevado. Afinal, o cristão é testemunha de Jesus Cristo. Contudo, este processo de santificação não é completo, podendo variar de acordo com cada pessoa. O Catecismo Maior de Westminster, padrão doutrinário da IPI do Brasil, se manifesta a respeito desta questão da seguinte forma;
Embora a santificação esteja inseparavelmente ligada à justificação, elas são diferentes. Na justificação, Deus imputa a justiça de Cristo; na santificação, seu Espírito infunde graça e capacita a exercitá-la. Na justificação, o pecado é perdoado. Na santificação, ele é subjugado. A justificação liberta igualmente todos os crentes do castigo divino de uma forma tão perfeita que eles nunca são condenados nesta vida. A santificação não é igual em todos, nem é alcançada de forma perfeita por ninguém. Sempre pode haver crescimento no rumo da perfeição.
Portanto, fica claro o papel ético, prático e pessoal deste processo de santificação. Para concluirmos, citaremos o que o pastor e teólogo presbiteriano norte-americano John H.Leith escreveu a respeito deste processo de santificação, alertando-nos a respeito do perigo do moralismo existente neste conceito;
Calvino e a tradição reformada fracassaram na manutenção da tensão, e enfatizaram demais a santificação. Um resultado disso tem sido o legalismo, no qual sempre acaba faltando graça. Outro resultado tem sido a auto justificação, especialmente quando o pecado é reduzido à sensualidade, que é mais controlável do que o orgulho ou a apatia, especialmente na velhice. Uma terceira conseqüência tem sido o obscurantismo, quando a vontade de Deus é identificada prematuramente com algum padrão humano de conduta. O equilíbrio adequado entre perdão e santidade não é algo simples na vida cristã ( Leith, p.122)
ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA
Parabéns André pelo seu blog. Está muito bom.
ResponderExcluirAgora podemos contar com mais uma ferramenta para compartilharmos leitura e conhecimento.
Deus te abençoe.
Um grande abraçö: Joabe e Mari