quarta-feira, 29 de junho de 2011

Memória : África do Sul, Urgente ! 1988



Introdução



Logo no início deste blog, na época da Copa do Mundo de Futebol, realizada ano passado, na África do Sul, escrevi uma pequena matéria histórica a respeito da relação existente entre o cristianismo, principalmente protestante, e o regime do apartheid sul africano.

Vasculhando os arquivos da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, comunidade a qual ainda estou vinculado, mesmo sendo estagiário de meu presbitério em duas outras comunidades da IPIB, encontrei um artigo histórico, de autoria do Rev.Abival Pires da Silveira, na época pastor titular da igreja e, atualmente, gozando da justa emerência.

Sou filho espiritual do Rev. Abival. Seus sermões sempre me alimentaram profundamente. Sua vasta cultura extrapola o mundo teológico. Filósofo formado pela Universidade de São Paulo ( USP), sempre citou, e ainda cita, grandes pensadores do mundo filosófico em suas homilias.

O texto reproduzido abaixo é fruto de sua pena. Data de 10 de abril de 1988 e foi publicado no boletim dominical da igreja. Nessa época, o apartheid mostrava sua face mais dura na África do Sul.

Julgo que este artigo, repleto de informações históricas a respeito da oposição cristã de orientação reformada ao apartheid, é fundamental, não devendo permanecer esquecido em uma estante no Centro Histórico da mais que centenária igreja localizada no centro da capital Paulista.

Vamos ao texto.


África do Sul, Urgente.

Recebemos, esta semana, uma correspondência oficial do secretário geral da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas, Rev.Dr.Edmond Perret. Essa correspondência foi ditada pela situação delicada na África do Sul e que vem se agravando mais e mais nos últimos dois meses. A delicadeza do momento chegou a tal ponto que a Aliança enviou à África do Sul uma delegação constituída de três membros :

- Rev. Dr.Edmond Perret, Secretário Geral;
- Reva. Slvia Michel, membro da Diretoria da Federação Suíça de Igrejas Protestantes;
- Rev. Joachim Guhrt, Secretário Geral da Aliança de Igrejas Reformadas da República Federal da Alemanha.

com a finalidade de protestar junto ao governo da África do Sul contra as medidas discricionárias adotadas contra líderes e contra Igrejas que não apóiam a política oficial do apartheid e, ao mesmo tempo, levar o apoio da comunidade reformada mundial a esses líderes e a essas igrejas tanto em palavras como em atos e orações. O relatório oficial da Comissão destaca:

1- O endurecimento cada vez maior do governo sul africano em impor sua política de apartheid.
2- As ameaças contra o Rev.Dr Allan Boesak, presidente da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas e um dos líderes do movimento anti-apartheid.
3- Falsas acusações contra o Dr.Boesak e o bispo Desmond Tutu como sendo agitadores a serviço da causa do comunismo na África.
4- Pressões sobre eles e outros líderes protestantes com prisões arbitrárias como instrumento de coação e amedrontamento.
5- Pressões sobre as igrejas que abertamente condenam a política oficial do apartheid.

Do pronunciamento da delegação quando ali esteve destacamos o seguinte trecho : “ nossa delegação deixa claro que as acusações e ameaças contra seu Presidente, Dr. Allan A. Boesak, são de fato dirigidas contra a Aliança Mundial de Igrejas Reformadas que não ficará indiferente e invocará o repúdio de suas 164 igrejas membros e de seus 70 milhões de fiéis”. E mais adiante : “ Nós asseguramos ao Dr. Boesak, sua esposa, seus filhos, sua família- e asseguramos a todos que aqui sofrem no corpo e na alma- nossa solidariedade, nosso apoio e nossas orações. Pedimos às nossas igrejas em todo o mundo o suporte espiritual a favor de todos aqueles que lutam e trabalham por mudanças pacíficas e dão seu testemunho profético na África do Sul”.



A correspondência termina pedindo que as igrejas membros da Aliança enviem telegramas de apoio ao Rev.Boesak e instem junto ao governo de seus países por ações e medidas concretas de repúdio ao apartheid sul africano.



É nesse espírito que compartilhamos com a Primeira Igreja e a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, a delicada situação sul africana.
Somos um só corpo em Jesus Cristo e não há um só membro desse corpo que sofra sem que todo o corpo não sofra com ele.

Rev. Abival Pires da Silveira
Domingo, 10 de Abril de 1988.


sábado, 25 de junho de 2011

Vegetarianismo nas religiões- Parte 1 : Religiões indianas ou védicas

Introdução.

Este é um blog cristão. Sem abrir mão da doutrina de Cristo como mediador e caminho para Deus, reconhece, contudo, expressões da verdade em crenças não vinculadas ao cristianismo.

Esta ideia, da veracidade de determinados elementos doutrinários e práticos em crenças tão distantes da tradição judaico-cristã, não é nova. Também não é fruto da cabeça de algum " liberal relativista", de acordo com a concepção tacanha de alguns fundamentalistas.

No período da Reforma, Zwínglio, o reformador suíço, recorrendo ao pensamento de teólogos patrísticos como Justino e Orígenes, afirmou que, na antiguidade, a salvação e a verdade não se encontravam sob posse exclusiva do povo hebreu, mas estendiam-se, de acordo com a soberania divina, para vários povos. Como argumento decisivo, o reformador de Zurique citava a sublimidade existente na filosofia grega.

Já no século XX, esse conceito foi defendido por teólogos de diferentes matizes. Karl Rahner, importante teólogo católico suíço, defendia essa tese. C.S.Lewis, pensador anglicano de orientação evangelical, também partilhava tal pressuposto.

Portanto, como cristãos, temos muito a aprender com outras crenças. O mesmo vale para com o ateísmo e agnosticismo. Deus é soberano e fala de diferentes maneiras.

Feita esta pequena introdução, estou inaugurando uma seqüência histórica a respeito do vegetarianismo em diferentes crenças. Contudo, gostaria de deixar uma coisa bastante clara. Não pretendo dogmatizar o vegetarianismo. Sou vegetariano há cerca de um ano. Foi uma escolha pessoal, sem nenhuma ligação com minha fé cristã evangélica. Se fosse ateu, também seria vegetariano.

A série será inaugurada avaliando o vegetarianismo nas chamadas religiões védicas, caso do hinduísmo, jainismo e budismo.

Autor da Introdução : André Tadeu de Oliveira


O presente artigo foi retirado do site hindu Mokshadharma

http://mokshadharma.blogspot.com/2008/10/psicologia-indiana.html


Vegetarianismo Hindu e o Ayurveda


Preceitos éticos levaram à introdução do vegetarianismo em algumas religiões da antiga Índia e estabeleceram os fundamentos de uma autêntica prática religiosa(Hinduism, Jainism and Buddhism). No jainismo o vegetarianismo é uma imposição, no hinduísmo e no budismo mahayana é proposto por textos relevantes. Em contraste, nas religiões abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamismo) e no sikhismo o vegetarianismo não é uma prática oficial. Entretanto, no cristianismo e no sikhismo alguns segmentos promovem o vegetarianismo como disciplina religiosa.

Hinduísmo

O vegetarianismo tem um papel importante na tradição hindu, embora existam diversas variedades de práticas e crenças que se transformaram ao longo do tempo. Estima-se que cerca de 30% dos hindus são vegetarianos. Entretanto, algumas seitas hindus não observam o vegetarianismo.




Não Violência

O princípio da não-violência (ahimsa) foi introduzido pelo budismo e pelo jainismo como reação às práticas sacrificiais de animais e humanos existentes no primitivo brahmanismo. Acredita-se que o sofrimento de todos os seres resulta das ambições e desejos e condicionam efeitos kármicos. A violência no abate de animais para alimentação é fruto do desejo e comer carne condena os seres humanos ao sofrimento.

O Hinduísmo incrimina os responsáveis pelo abate animal, os que matam e os que o retalham, os que vendem e os que compram, quem cozinha, quem serve, e quem o come devem ser considerados assassinos do animal. As questões que envolvem os deveres religiosos e do Karma negativo gerado pela violência (himsa) contra animais é discutida em pormenor nas escrituras hindus e nos textos religiosos normativos.

Segundo as escrituras hindus do período védico (que perdurou até cerca de 500 AC), em princípio, era permitido comer carne, mas houve uma restrição específica nas regras. Várias escrituras respeitáveis proibiram a matança de animais domésticos, exceto no caso do sacrifício ritual. Preceito claramente expresso no Mahabharata (3.199.11-12; 13,115; 13.116.26; 13.148.17), no Bhagavata Purana (11.5.13-14), e nos Chandogya Upanishad (8.15.1). Também se encontra no Manu Smriti (5.27-44), a renomada obra jurídica hindu (Dharmasastra). Estes textos condenaram veementemente o abate de animais e o consumo da carne, a menos que ocorressem no contexto dos sacrifícios rituais executados pelos brahmanes. O Mahabharata permite aos guerreiros profissionais (Kshatriyas) caçar e comer carne "para adquir força e coragem" (13.115.59-60; 13.116.15-18), mas se opõe a essas atividades, no caso de samnyasins (renunciantes) que devem ser rigorosamente não-violentos.

O Mahabharata (12,260; 13,115-116; 14,28) e o Manu Smriti (5.27-55) contêm longos discursos sobre a legitimidade do abate ritual e do conseqüente consumo de carne. No Mahabharata ambos, os carnívoros e os vegetarianos apresentam diferentes argumentos para fundamentar os seus pontos de vista. Estes textos mostram que tanto o abate ritual e a caça foram contestados por defensores da não-violência, tema polêmico de difícil aceitação. No hinduísmo moderno o abate ritual permitido nas escrituras védicas praticamente desapareceu.

Aspectos Espirituais

Em algumas tradições, especialmente no Vaishnavismo, é essencial que os devotos ofereçam o alimento à divindade escolhida antes de comê-lo como Prasad. Esta regra é rigorosamente observada pelos discípulos do Bhakti Yoga, especialmente os Gaudiya Vaisnavas. Adoram Vishnu ou Krishna, e de acordo com as injunções das escrituras que obedecem, apenas a comida vegetariana é aceitável como Prasad.

O vegetarianismo é compulsório também para os praticantes de Hatha Yoga. Os preceitos das escrituras como o Bhagavad Gita orientam para comer apenas alimentos de alta qualidade, porque o alimento modela a personalidade, o caráter e a mente. O consumo da carne induz à confusão mental e à ignorância, e ao indesejável estado mental conhecido como Tamas, enquanto uma dieta vegetariana promove as qualidades satvicas essenciais para progresso espiritual.


Budismo

O primeiro preceito do budismo proíbe não matar, ao contrário, o mandamento bíblico (Não Matarás) se aplica apenas aos seres humanos. O primeiro preceito sempre foi aplicado tanto aos animais como aos seres humanos implicando o não consumo de carne pelos budistas. Em alguns sutras Buda condena energicamente a ingestão de carne. No Mahayana Mahaparinirvana Sutra, Buda afirma que "comer carne destroi a semente da grande compaixão", acrescentando que o consumo de todo e qualquer tipo de carne ou peixe é uma contravenção, o consumo de carne é incompatível com a grande compaixão e estabelece o vegetarianismo como o correto sistema alimentar. Buddhist vegetarianism


O Ayurveda e a alimentação vegetariana

O Ayurveda reconhece o poder da alimentação e dos hábitos alimentares na restauração e preservação da saúde. Caraka (300 AC), renomado médico da antiga Índia, afirma que alimento é vida.

Textos antigos extraídos do Ayurveda estão repletos de exemplos relevantes de curas de doenças através da alimentação, bem como da manutenção da saúde. Eles priorizam a alimentação vegetariana que é considerada sátvica - a melhor forma para o consumo humano entre as três categorias ou qualidades (guna), as outras duas são a rajásica e a tamásica em ordem decrescente de qualidade.

O consumo regular de alimentos sátvicos previne doenças, promove melhor saúde física, mental e espiritual. De acordo com o Ayurveda, consumir alimentos sátvicos e adotar uma forma de vida sátvica é a melhor medicina preventiva.


Alimentos sátvicos, Rajásicos e tamásicos

A alimentação sátvica é a vegetariana orgânica que é natural e revigorante. Abrange frutas frescas e legumes, cereais, pães integrais, nozes, sementes e saladas. Alimentos que têm um sabor naturalmente doce são sátvicos, mas não inclui produtos com açúcar refinado, refere-se a qualquer coisa que tem um gosto doce sem aditivos químicos, como os cereais (arroz, trigo e cevada), pães, mel e frutas. Também estão incluídos neste grupo leite, chás, sucos de frutas ou de vegetais orgânicos e água. Alimentos cultivados organicamente são os preferíveis e, fertilizantes, pesticidas, produtos químicos e conservantes são tamásicos. Cogumelos, cebola, alho e o uso excessivo de especiarias devem ser evitados, pois são rajásicos e/ou tamásicos. Álcool, produtos que contêm cafeína (café, chocolate, chá, cola) e carne devem eliminados da dieta.

Equívocos sobre o consumo de carne no Ayurveda

As legítimas prescrições de dietas ayurvédicas estão baseadas no vegetarianismo, entretanto, ocorreram equívocos sobre a dieta vegetariana, e do papel do vegetarianismo no Ayurveda. Alguns autores defendem o uso de carne em suas orientações dietéticas, ou asseguram que pessoas com constituição vata necessitam de proteínas de origem animal. Outros afirmam que o ayurveda baseia-se no vegetarianismo por motivos religiosos, ao invés de razões biológicas ou preocupações com a saúde.

É verdade que o consumo de carne foi incluído nos textos originais do ayurveda, Caraka declara que a carne tem valor terapêutico quando preparada e consumida em condições específicas. No entanto, isto ocorreu em circunstâncias muito diferente dos atuais métodos de produção e consumo. A carne aparece como pequena parcela da dieta total, e era obtida através dos métodos tradicionais de caça em ambiente natural onde os animais viviam em seu habitat natural.

Caraka estabeleceu as diretrizes para o correto consumo de vegetais e de produtos animais, incluindo as características dos animais que não devem ser consumidos. Além disso, Caraka não recomenda o consumo habitual de carne como se propaga frequentemente. Pelo contrário, Caraka afirma que a carne tem grande valor quando utilizada para tratamentos de certas doenças, para os debilitados ou convalescentes, ou nos estados de desidratação ou definhamento. Se o animal sofreu morte natural, se foi morto por outros animais ou através de envenenamento, se for muito magro, gordo, velho ou jovem, comer sua carne é prejudicial à saúde. (Sutra Caraka Samhita 37:311)

Anatomia humana e a carne

Biologicamente, os humanos são mais adaptados a uma natural dieta vegetariana, pois seus dentes e a mandíbulas não são adequados para a dieta carnívora. Pesquisadores da Universidade do Arkansas e da John Hopkins School of Medicine dedicaram anos de estudo na análise do formato e dos padrões de desgaste dos dentes humanos confrontando as correspondentes dietas de primatas e de nossos fossilizados antepassados. Dentes com cúspides moderadamente acentuadas, como os nossos, só foram utilizados para o corte de alimentos como frutas, nozes, brotos, folhas e flores.
Os carnívoros têm características biológicas estruturalmente diferentes dos herbívoros. Seus intestinos são curtos e os ácidos digestivos são muito fortes, enquanto o comprimento do intestino humano é de três a quatro vezes maior do que o de um carnívoro típico, e com produção de ácidos digestivos mais fracos. A carne, por conseguinte, leva muito tempo para ser digerida, às vezes por vários dias. Nesse tempo, uma quantidade significativa de toxinas (ama) é estocada produzido o auto-envenenamento. Dr. Jenson, proeminente nutricionista norte-americano, expressa este conceito claramente quando afirma: "As proteínas animais apodrecem muito rapidamente no trato intestinal... A fermentação ocorre em condições intestinais que favorecem a multiplicação de bactérias tóxicas indesejáveis e destroem as benéficas acidophilus".




É possível obter proteínas de vegetais?

O valor da carne na dieta humana é geralmente associado ao seu conteúdo protéico. É uma falácia a difusão de que a proteína animal é essencial para a nutrição humana e que não pode ser obtida a partir de qualquer outra fonte. As proteínas necessárias para a preservação da saúde e fortalecimento do vigor físico são encontradas em uma ampla variedade de alimentos. Se a “qualidade da proteína” numa escala de avaliação entre 1-100 é aplicada a diferentes alimentos, as aves domésticas ocupam a posição 67e peixes a 80. Em contraste, o leite tem a classificado 82, grãos entre 50-70, leguminosas, nozes e sementes entre 40-60 e verduras cerca de 80. As necessidades diárias de proteínas, na verdade, são inferiores ao que se acredita.

Nos tempos modernos, os problemas com as dietas ocidentais normalmente é excesso de consumo de proteínas ao invés de sua deficiência. Muitos componentes das proteínas metabolizadas pelo corpo humano (aminoácidos) são realmente fabricados internamente. Dos 22 aminoácidos que fornecem proteínas, o corpo humano produz 13, independente das fontes dietéticas. Os restantes podem ser obtidos a partir de alimentos vegetais.
Algumas pessoas acreditam que as dietas vegetarianas são deficientes em vitaminas do complexo B, especialmente a B12. Esta vitamina é essencial na dieta, e sua deficiência pode levar à fadiga, falta de concentração, de memória e insônia. A vitamina B12 pode ser obtida pelo suficiente consumo de leite, queijo e cereais integrais. Uma variada e equilibrada dieta vegetariana evita a necessidade de quaisquer suplementos de vitaminas do grupo B.

Importância do consumo equilibrado

Proteína animal na forma de carne não é essencial para o crescimento humano e seu desenvolvimento, o ser humano pode desenvolver-se normalmente a partir do nascimento, e obter os necessários nutrientes e vivenciar completa saúde com uma dieta puramente vegetariana.

De fato, diversos estudos demonstraram que os vegetarianos têm vida mais longa, com menor incidência de câncer e maior densidade óssea do que os não-vegetarianos.
Um consumo equilibrado de vegetais, grãos, nozes, legumes e sementes fornece quantidades suficientes de proteínas, bem como de todas as vitaminas e minerais necessários para a saúde, conferindo vitalidade e energia. Há uma enorme gama de receitas vegetarianas saborosas e nutritivas, fáceis de preparar e de natureza sátvica que comprovam que a alimentação vegetariana não é apenas uma porção de vegetais e saladas cruas!

Situação atual

Na Índia moderna, os hábitos alimentares dos hindus variam de acordo com suas comunidade ou sua casta de acordo com as tradições regionais. Os hindus vegetarianos geralmente evitam ovos, mas consomem leite e produtos lácteos, assim eles são lacto-vegetarianos.

Segundo uma pesquisa de 2006, o vegetarianismo é pouco praticado no litoral, sendo mais forte no interior dos estados do norte e oeste, e especialmente entre brahmanes que contam com 55 por cento de adeptos. A maioria dos habitantes do litoral consomem peixe. Em particular, hindus do Bengali mistificaram pescadores e o consumo de pescado através da poesia, da literatura e da musica. Segundo as últimas pesquisas é crescente o consumo de carne na Índia.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Evangélicos e o regime militar brasileiro




Texto publicado pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação a respeito da excelente matéria encontrada no último número da revista IstoÉ, onde a relação entre o protestantismo histórico e o regime ditatorial brasileiro é abordada.





Documentos mostram evangélicos nos porões da ditadura




ALC


Torturados e delatores da grei evangélica brasileira ganham visibilidade nos documentos que o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) repatriará oficialmente ao Brasil na quinta-feira, 14, entregando 1 milhão de páginas microfilmadas que estavam no Center for Research Libraries, de Chicago, e 10 mil páginas inéditas da correspondência entre o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, e o pastor presbiteriano unido, James Wright.

A revista semanal IstoÉ antecipou, na semana passada, histórias de evangélicos entrevistando pastores e líderes evangélicos que passaram pelo pau de arara e aqueles que os conduziram até os porões da ditadura, nos Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).

Os evangélicos carregam uma mancha em sua história por convidar a repressão a entrar na Igreja e perseguir os fiéis, comentou ao repórter Rodrigo Cardoso o antropólogo Rubem Cesar Fernandes, 68 anos, de origem presbiteriana, preso antes do golpe, em 1962, por participar do movimento estudantil.

“Não é justificável usar o poder militar para prender irmãos”, disse Fernandes, considerado “elemento perigoso” por pastores que o incluíram numa lista entregue aos militares, depois do golpe.

O pastor batista Roberto Pontuschka, capelão militar, torturava presos à noite e de dia distribuía porções do Novo Testamento aos detentos nas dependências da Operação Bandeirantes (Oban), de São Paulo. Com 21 anos à época, o então seminarista da Igreja Presbiteriana Independente e hoje teólogo e professor de ciências da religião na Umesp, Leonildo Silveira Campos, preso por dez dias pela Oban, em 1969, não esqueceu o método evangelístico do pastor Pontuschka.

Pai de quatro filhos, Anivaldo Padilha, 71 anos, só veio a conhecer o seu filho Alexandre, hoje ministro da Saúde do governo da presidenta Dilma Rousseff, aos oito anos de idade. Em mais de 20 dias de tortura, em fevereiro e março de 1970, no DOI-Codi de São Paulo, o então estudante de ciências sociais da Universidade de São Paulo, com 29 anos de idade e ligado à Igreja Metodista, chegou a pensar em suicídio. Libertado depois de dez meses de prisão, Anivaldo partiu para o exílio, de 13 anos, no Uruguai, Suíça e Estados Unidos.

“Eu tinha muito medo do que ia sentir na pele, mas principalmente de não suportar e falar. Queriam que eu desse o nome de todos os meus amigos, endereços” relatou Anivaldo ao repórter da IstoÉ. Ele descobriu seus delatores há cinco anos, ao ter acesso a documentos do antigo Sistema Nacional de Informações. Quem o delatou foram o pastor José Sucasas Jr. e o bispo Isaías Fernandes Sucasas, da Igreja Metodista, já falecidos, aos quais Anivaldo era subordinado.

Nos anos de chumbo, controlados pelos militares, pedir justiça aos excluídos, defender a reforma agrária e manifestar preocupações sociais eram coisas de comunistas, apoiados pelo movimento ecumênico.

“Fui expulso, com mais oito colegas, do Seminário Presbiteriano de Campinas, em 1962, porque o nosso discurso teológico de salvação das almas passava pela ética e a preocupação social”, contou à IstoÉ o mineiro Zwinglio Mota Dias, 70 anos, pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU).

Dos 54 estudantes matriculados no seminário teológico de Campinas, 39 foram expulsos em 1967. No mesmo ano, a Igreja Metodista fechou a Faculdade de Teologia de São Paulo e expulsou estudantes e professores. O pastor Boanerges Ribeiro, presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), promoveu uma “depuração interna” na igreja em 1965. A Igreja Presbiteriana Independente (IPI) expulsou dez seminaristas em 1968.

Dois anos depois, a Federação Luterana Mundial cancelou assembléia geral que realizaria em Porto Alegre porque, entre outros motivos, a igreja brasileira convidara o presidente da República, general Emília Garrastazu Médici, para a abertura do evento. Líderes luteranos negavam, então, a existência de práticas de tortura no Brasil.

Vários evangélicos colaboraram com a máquina repressora da ditadura, delataram irmãos e assumiram o discurso do anticomunismo como a salvação do Brasil. “Eu acreditava ser impossível que alguém que se dedica a ser padre ou pastor, cuja função é proteger suas ovelhas, pudesse dedurar alguém”, confessou Padilha.

Nesses anos todos, Padilha descobriu, depois de se deparar casualmente, em festa de Carnaval, com um de seus torturadores, que o perdão é libertador.

"O perdão, para mim, foi uma forma de exorcizar os demônios das torturas que me causaram pesadelos durante quase seis anos. Há situações em que o perdão é mais importante para quem perdoa do que para quem é perdoado. No entanto, isso não significa que eu acho que os torturadores, seus mandantes e colaboradores não devam ser punidos. A punição deles é importante para resgatar a dignidade dos que foram torturados, da memória dos assassinados, das famílias que não puderam ainda sepultar seus membros desaparecido. Além disso, a impunidade contribui para que a tortura ainda seja praticada em larga escala nas delegacias e prisões brasileiras. Em suma, a punição representaria o resgate da dignidade da sociedade brasileira que foi violentada por um regime autoritário", afirmou o metodista.

Dom Paulo Evaristo Arns e o pastor Jaime Wright serão lembrados no ato de repatriação dos documentos que estão de posse do CMI, que terá lugar em São Paulo, amanhã, na Procuradoria Regional da República. Eles foram os grandes articuladores do Projeto Brasil Nunca Mais.

O projeto Brasil Nunca Mais teve início em plena ditadura militar (1964-1985), quando grupo de religiosos e advogados tentou obter, junto ao Superior Tribunal Militar (STM), informações e evidências de violações aos direitos humanos, praticadas por agentes do aparato repressivo. Do projeto originou-se o livro com o mesmo nome – uma compilação com cerca de 5% de toda a documentação levantada no STM.

Os mentores do projeto – em especial a advogada Eny Raimundo Moreira e a equipe do escritório Sobral Pinto – perceberam que os processos poderiam ser reproduzidos .


Agência Latino-Americana e Caribenha de Informações